quarta-feira, 14 de março de 2012

Bioética e consumismo



           Num lugar distante morava um homem que trabalhava na agricultura e cuidava dos animais. Ele era muito conhecido, porque andava com uma bolsa que jamais poderia ser preenchida por qualquer coisa material. Quando o rei soube desta história, sentiu-se enganado por uma informação tão descabida, e resolveu chamar o homem para humilhá-lo diante de todos. Quando o homem entrou na sala real, o rei logo deu ordens aos soldados para que enchessem a bolsa com alguns objetos que estavam dispostos naquele lugar. Para surpresa do rei e de todos os súditos, todos os objetos couberam na bolsa, mas aos olhos de todos, a bolsa continuava vazia. Então o rei perguntou ao homem o que era aquela bolsa. O homem respondeu: “Esta bolsa é o desejo do ser humano”.            
Atualmente, na área da psicologia, há um estudo mais aprofundado sobre a estrutura desejante do ser humano. Se a área psicológica tem um interesse pelo desejo humano, o capitalismo [1]explora com frequência estes desejos, mesmo aqueles que estão no íntimo, e que são considerados até proibidos, lúbricos do ser humano, instrumentalizando, sobretudo o corpo da mulher. Ele (o capitalismo) tem a capacidade de revestir com uma roupagem brilhante as mercadorias, afim de que elas despertem e agucem o desejo pela compra.
Presenciamos no ambiente em que estamos, a realidade do desejo que se preenche no consumo de mercadorias. Se é possível aprofundar nos estudos da psicologia [2]winnicotiana sobre o amadurecimento humano e do cuidado de si e dos outros, é também possível constatar uma forte neurose no ser humano que busca alívio imediato nas crises e decepções, a partir do consumo desenfreado. 
Um dos pontos importantes da bioética visa ao cuidado do ser humano e do planeta. O ser humano e o planeta estão emaranhados e entrelaçados nesta indústria que fomenta o excesso de coisas em nossas casas, e que produz um consumo exarcebado, que desrespeita a vida e gera desigualdades absurdas. A certeza que permanece é que [3]o estilo de vida criado pelo capitalismo privilegia certa minoria. E o custo em termos de depredação do mundo físico, desse estilo de vida consumista, é de tal forma elevado,  que põe em risco a sobrevivência do ser humano. Por Hélia Santos


[1] Cf. LIBÂNIO,J.B; CUNHA,Carlos. Linguagens sobre Jesus. 1
[2] Seminário Winnicott, 19 a 21 de outubro de 2011. Centro Loyola, 2011.
[3] Cf. FURTADO,Celso.O Mito do crescimento Econômico.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Os descaminhos da vida


 Aos diversos modos de abordar a vida mostra a dinâmica que envolve a vida e a complexidade da mesma. Por sua vez, a dinâmica e a complexidade da vida exige um olhar mais atento e apurado no cuidado e zelo para com ela. Em uma sociedade cada vez mais individualista e pluralista de idéias, de opções e de posturas sobre a vida, também, tecem idéias variadas, posturas equivocadas e até opções de morte.

Por isso, aparece, mesmo que implicitamente, na atualidade um forte apelo de segurança à vida e a dignidade da mesma. As diversas instituições que estão em crise. As variadas relações existentes que se encontram fragmentadas. A desilusão presente no olhar e no coração de muitos homens e mulheres, tudo isso é sinal de uma crise profunda. Os inúmeros impactos ambientais, a ameaça que sofre diversas espécies de desaparecimento. Tudo isso revela a crise mundial em que se encontra a população planetária.

Mas, essa é, propriamente, uma crise do humano. Não que o homem seja o centro do universo e do mundo. Porém, é ele que pensa e problematiza a vida e as relações que a ela se liga. As relações com o mundo e com as vidas de todos os seres existentes. Por isso, podemos perceber que as inúmeras faces da crise mundial é sinal simbólico da crise humana. Este ser que já fora definido por antropologias diversas de maneiras variadas. Ser social. Ser racional. Ser relacional. Ser lúdico. Ser religioso. Ser de possibilidades. Ser para a morte. Ser simbólico, etc.

Assim urge a necessidade desse ser que problematiza a vida e as relações que a ela se entrelaçam de rever a sua caminhada evolutiva e histórica criticamente para redescobrir o sentido da existência e, logo, da vida. A vida em seu mistério, em sua incógnita, em seu dinamismo, em sua incapacidade de ser apreendida totalmente e em sua intrínseca dependência de outros seres pode ser um ponto de partida para um aprofundamento do redescobrimento para ela. E ao mesmo tempo uma fuga salutar para a saída da crise humana.

Longe de qualquer utilitarismo ou ditadura sobre a vitalidade e animosidade deste fenômeno que denominamos vida devem estar atento o coração e a mente humana. Próximo a mutua dependência uns dos outros deve ser fixado à ação do homem. Aberto ao cuidado e ao zelo pela vida deve estar toda integibilidade de nossa razão. E, portanto, os passos salutares e profícuos dados pela ciência e pela religião no que tange o fenômeno da vida devem servir, também, como parte do grande arcabouço que traçam a linha do bom diálogo entre fé e ciência. Por Vagner Moreira da Silva.


 Resumo. A gama de modos de abordar a vida mostra a dinâmica que envolve a vida e a complexidade da mesma. Por sua vez, a dinâmica e a complexidade da vida exige um olhar mais atento e apurado no cuidado e zelo para com ela. Os inúmeros impactos ambientais, a ameaça que sofre diversas espécies de desaparecimento. Tudo isso revela a crise mundial em que se encontra a população planetária. Assim urge a necessidade desse ser que problematiza a vida e as relações que a ela se entrelaçam de rever a sua caminhada evolutiva e histórica criticamente para redescobrir o sentido da existência e, logo, da vida. A vida em seu mistério, em sua incógnita, em seu demonismo, em sua incapacidade de ser apreendida totalmente e em sua intrínseca dependência de outros seres pode ser um ponto de partida para um aprofundamento do redescobrimento para o sentido dela. (Palavras Chaves: vida, cuidado, sociedade, individualista, dignidade, homem, crise, impactos, ambientais, ameaça, coração, mente, olhar, sociedade, desilusão, redescobrir, antropologias, variadas, diversas, simbólico.)


O limite do homem

Muitas pessoas criam algo no intuito de realizarem seus desejos em vista do bem comum. Porém, não percebem que sua criação pode tornar-se uma arma perigosa nas mãos de outros corrompidos pelo poder. O exemplo de Alberto Santos Dumont que ao inventar o avião não pensou em usá-lo como instrumento de guerra e destruição de vidas ilustra bem essa ideia.

Pobres mentes saudáveis
Que sem pensar no mal
Cria coisas bem fazejas
No entanto torna-se uma arma
Poderosa de destruição
Nas mãos de quem da vida não tem clareza


Muitas vezes tal bendita mente
É corrompida por seu desejo descontrolado
Não se limita por ser ilimitada
Cria de modo desordenado
Em vista de fim particular
Sem pensar no que pode ser prejudicado


Mas como pôr limite a quem é ilimitado?
A liberdade é uma afirmação
Que o homem é ser de possibilidades
De ponderar a si mesmo, de resolver problemas
Capaz de criar, realizar, mudar
Capaz de superar suas debilidades

O limite do homem é o outro
O homem é capaz de dar equilíbrio a suas ações
Quando pensar no outro como fim e não com meio
Quando relacionar-se com o outro vendo a si mesmo
Quando tiver controle sobre suas emoções

Por Luziene Filgueira

E se não houvesse a bioética?


A bioética não é uma disciplina, pois não abrange especificamente um aspecto do objeto, mas discursa sobre várias questões que dizem respeito à vida em seu sentido mais profundo considerando tudo que pode propiciar seu bem-estar, ou seja, o aspecto físico, sócio-cultural, político e econômico.
O ser humano, tomado de desejo, é capaz de criar, realizar e manipular algo exercendo poder, controle da coisa. Desconhecendo seus limites, realiza seu desejo e cria força ideológica sobre outras pessoas, tornando-as seguidoras de seu ideal. Alguns se utilizam da boa intenção da criação de outrem e fazem mau uso da mesma. Ao fugir da moralidade o ser humano causa danos irreversíveis, como a morte de milhares de pessoas na catástrofe causadas pela bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki no Japão. Os experimentos com humanos realizados nos campos de concentração, por “médicos nazistas”, para a descoberta de curas e outros avanços na medicina, também revelam o quanto o ser humano se distanciou da ética.
Quem põe freio a tanta desumanidade? Assim como uns se utilizam do progresso tecnológico para dominar, realizar seus desejos desordenados, outros agem eticamente, pensam no bem de todos, valorizam a vida. Destarte esse é o propósito da bioética, está a favor da vida. Com a bioética o ser humano foi percebido e defendido pelo que é, pessoa humana. Sem a bioética o ser humano continuaria sendo visto somente, como um objeto de pesquisa e tudo isso resultaria em sua autodestruição. Portanto, onde houver desordem que haja ordem, onde houver egoísmo que haja solidariedade, onde houver morte que haja vida, onde houver técnica que haja ética.


Por Luziene Filgueira