Num lugar distante morava um homem
que trabalhava na agricultura e cuidava dos animais. Ele era muito conhecido,
porque andava com uma bolsa que jamais poderia ser preenchida por qualquer
coisa material. Quando o rei soube desta história, sentiu-se enganado por uma
informação tão descabida, e resolveu chamar o homem para humilhá-lo diante de
todos. Quando o homem entrou na sala real, o rei logo deu ordens aos soldados
para que enchessem a bolsa com alguns objetos que estavam dispostos naquele
lugar. Para surpresa do rei e de todos os súditos, todos os objetos couberam na
bolsa, mas aos olhos de todos, a bolsa continuava vazia. Então o rei perguntou
ao homem o que era aquela bolsa. O homem respondeu: “Esta bolsa é o desejo do
ser humano”.
Atualmente, na área da psicologia, há um estudo mais aprofundado sobre a
estrutura desejante do ser humano. Se a área psicológica tem um interesse pelo
desejo humano, o capitalismo [1]explora
com frequência estes desejos, mesmo aqueles que estão no íntimo, e que são
considerados até proibidos, lúbricos do ser humano, instrumentalizando,
sobretudo o corpo da mulher. Ele (o capitalismo) tem a capacidade de revestir
com uma roupagem brilhante as mercadorias, afim de que elas despertem e agucem
o desejo pela compra.
Presenciamos no ambiente em que estamos, a realidade do desejo que se
preenche no consumo de mercadorias. Se é possível aprofundar nos estudos da
psicologia [2]winnicotiana
sobre o amadurecimento humano e do cuidado de si e dos outros, é também
possível constatar uma forte neurose no ser humano que busca alívio imediato
nas crises e decepções, a partir do consumo desenfreado.
Um dos pontos importantes da bioética visa ao cuidado do ser humano e do
planeta. O ser humano e o planeta estão emaranhados e entrelaçados nesta
indústria que fomenta o excesso de coisas em nossas casas, e que produz um
consumo exarcebado, que desrespeita a vida e gera desigualdades absurdas. A
certeza que permanece é que [3]o estilo de vida criado pelo capitalismo
privilegia certa minoria. E o custo em termos de depredação do mundo físico,
desse estilo de vida consumista, é de tal forma elevado, que põe em risco a sobrevivência do ser
humano. Por Hélia Santos