Uma pergunta de suma importância fez parte de
uma das aulas de bioética na FAJE: “o bem obriga?”. Partindo do questionamento,
uma resposta ficou exposta: [conceitualmente] “na liberdade não, mas na existência sim”. É por
isso que o debate de uma bioética capaz de abarcar as mais diversas correntes
de pensamentos deve partir do princípio do bem universal. A bioética, biogenética, experimentação em
animais e seres humanos devem necessariamente partir do “bem” que elas podem
produzir para a humanidade e para o planeta como um todo. Como a próprio
resposta da pergunta supracitada nos explicita: não somos obrigados pela nossa
liberdade a fazer o bem; isso quer dizer que podemos escolher o mal, somos
livres para isso.
De fato,
não temos “obrigação de fazer o bem” ou busca-lo em tudo que fazemos, deixamos
de fazer ou realizamos em nossa vida cotidiana. Entretanto, estamos
implicitamente “obrigados” a fazer o bem diante de nossa existência. Uma
existência que nos faz estarmos em relação com outras pessoas, com o
meio-ambiente, com a realidade mais que sensível do nosso próprio ser. O bem “força”
a uma prática e exercício da generosidade num contexto do qual não conseguimos
viver fora de uma sociedade e nela devemos respeitar aqueles que convivem
conosco e dividimos os mesmos espaços sociais.
Em nossa
sociedade atual “é mais importante que nunca solidarizar o ser humano com as
suas condições”[1], desde
o embrião até a idade mais avançada, e isso é estar comprometido com a vida e
fomentá-la em todos os níveis de seu desenvolvimento. A ‘solidarização’ do
homem para consigo é a mais especial de todas as suas faculdades e não deve ser
perdida diante de uma conjuntura na qual um “bem maior” é dito como
possibilidade em detrimento a uma “mal menor”, como seria no caso do aborto.
O homem
é capaz da promoção de extraordinários benefícios, ao mesmo tempo devasta a
natureza sem dó nem piedade. A natureza se torna objeto de consumo, poder e por
vezes, reprime uma maioria que fica na mão de uma minoria detentora de uma
grande quantidade de terra. Entretanto existe uma vivacidade naquele que
pratica o bem e o torna soberano em sua existência, promovendo a partilha de
dons na dignidade humana e na fraternidade universal.
É
preciso que a bioética (reflexão transdisciplinar da ética) entre nesse jogo e
disputa de poder para sanar o desequilíbrio entre as duas forças. A bioética
não deve ficar ao lado daqueles que por interesses particulares e em sua
maioria econômicos ajuízam suas atitudes devido a uma má compreensão do
“progresso” da civilização. A bioética tem a obrigação de estar acima dos
interesses mercadológicos, esboçando para toda a sociedade os pressupostos
básicos e racionais para que um determinado conhecimento venha ou não ser
aceito. Só assim poderemos ter mais respeito para conosco e com todos os seres
vivos da face terrestre. Por Hugo Galvão (aluno).
Crédito da figura: http://commongoodpersuasion.org/img/logo.gif
1- BOURGUET, Vincent. O ser em gestação. São Paulo:
Loyola. 2002. p. 233
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