Estava
eu passando os canais da televisão em plena Quarta-feira
de Cinzas, quando me deparo com uma entrevista num programa culinário
matinal. A famosa apresentadora entrevistava a Dra. Vera Beatriz Fehér Brand
diretora do primeiro banco de sêmen do Brasil. A doutora, formada em
veterinária, era entrevistada a respeito da polemica que, a novela em horário
nobre da mesma emissora, lançará no ar, a saber: reprodução assistida.
Até
então nada de novo! Vera Brand apresentava as falhas realizadas pela personagem
no processo de reprodução assistida e deixava clara a verdadeira conduta ética
do médico num processo delicado como esse.
Eis
que na parte final da entrevista a doutora utilizou uma expressão que se não
nos trouxer espanto, pelo menos nos balançar e fazer pensar isso deve ocorrer.
Contando um caso de uma determinada cliente (ou paciente) a doutora usou o
termo “uma mulher bem resolvida”. Falava
ela que essa paciente, bem resolvida, independente financeiramente, bem
sucedida no mundo dos negócios, resolveu ter um filho. Como se referia de uma
mulher completamente independente ela simplesmente procurou a doutora e comprou
o sêmen e resolveu ter seu filho “sozinha”. No entanto, como é quase normal de
acontecer em reprodução assistida, ela ficou gravida de trigêmeos. Completando
a arguição da entrevistada, a apresentadora realçou: “As mulheres já são independentes em tudo, também querem elas sua
independência para ter seus filhos”.
Não
muito distante compreendíamos que a reprodução
assistida apresentava-se como uma técnica para que os casais que,
enfrentavam dificuldades para conceber um filho, tivessem um auxilio médico
para propicia-los essa alegria de gerar vidas. No entanto, ao nos depararmos
com tal argumentação, cabemos agora olhar com maior cautela e percebermos até
que ponto a técnica não está sendo mais um apoiador nos distanciamentos das
relações entre os seres humanos.
Que
as mulheres já galgaram seus espaços no mundo, isso é um fato, notável e notório.
Mas até que ponto as mulheres bem
resolvidas, que desejam ter seus filhos sozinhas, na verdade não estão é
tentando se isolar cada vez mais das relações, cabe nos pensar. E nesse
sentido, seria mesmo melhor utilizarmos o termo “Bem resolvidas”?
A bioética necessariamente deve se fazer
presença, efetiva e afetiva, esses casos. Não será possível um mundo
sustentável, se cada vez mais nos esquivamos de nos relacionarmos uns com os
outros. Para dar sentido para as gerações vindouras precisamos sim sentarmos
uns com os outros e comermos muitos
saquinhos de sal juntos. (utilizando a expressão que minha avó gostava
muito de usar, para dizer como é difícil conhecermo-nos uns aos outros).
Seremos
homens e mulheres bem resolvidos
quando passarmos a ser não apenas especialistas nas varias técnicas que
criamos, mas a partir do momento que fomos doutores
em relações. Relações que não são virtuais, anônimas, casuais. Mas são
relações verdadeiras, sinceras, com raízes, duradouras. Relações que nos
permitam compreender o outro não apenas um facilitar para conseguir o que
queremos, não para galgar mais degraus na difícil disputa da vida, mas alguém
que caminha junto, sofre junto, experiência novos caminhos juntos.
Seremos
sim mui bem resolvidos quando o outro
não for mais tabu, assombroso, medonho. Mas com o outro trilharemos sonhos,
geraremos vidas, sustentaremos esperanças, construiremos pontes. Ai sim, se a
biologia não nos propiciar a felicidade da geração, as técnicas nos ajudaram,
em conjunto, a trilharmos projetos de esperança.
Que
nós num futuro muito presente consigamos nos encontrar numa sociedade de
pessoas excelentemente bem resolvidas! Por Marco Aurélio (aluno)
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