domingo, 26 de fevereiro de 2012

Ainda no início: Uma homenagem a Van R. Potter


        Dizem por ai que tudo o que existe tem que ter um criador. Se assim o é, a Bioética não poderia ser órfã. Encontrar o seu criador pode nos ajudar a compreender seus primeiros passos e decifrar seu código genético, e assim, suas características mais profundas. E com isso, atestarmos, de uma vez por todas, sua verdadeira e fundamental importância para os dias de hoje.


Basta fazermos uma rápida pesquisa na internet e perceberemos que pontualizar com exatidão sua gênese pode não ser uma tarefa tão simples. Mas quem falou que deveria ser?

                Sendo assim, alguns autores tentam cunhar que a gênese da bioética se deu por volta de 1927, quando um pastor alemão Fritz Jahr (1895-1953) publicou um artigo intitulado em inglês: Bio-Ethics - A Review of the Ethical Relationships of Humans to Animals and Plants (original em alemão: Bio-Ethik. Eine Umschau über die ethischen Beziehungen des Menschen zu Tier und Pflanze)[i]. Outros acreditam ser possível falar de uma protobioética no ano de 1948 com a promulgação do Código de Nuremberg, mediante os horrores vividos pela 2º Guerra mundial.
                No entanto, podemos apresentar como seu principal idealizador o médico oncologista norte-americano Dr. Van Rensselaer Potter (1911-2001). Ele foi o responsável por cunhar o neologismo Bioethics por volta do ano de 1970. O termo foi cunhado em dois escritos: primeiro num artigo intitulado Bioethics, socience of survival (1970); e o segundo num livro: Bioethics bridge to the future (1971), onde faz uma homenagem a Aldo Leopold, um renomado professor de Wisconsin que discutia sobre uma Ética da terra.
                Se por alguns, Potter não pode ser chamado de “pai da bioética”, apresenta-lo somente como autor do neologismo seria necessariamente faze-lhe uma injustiça. (PESSINI, 2005, p. 33-34).
Potter chamava a bioética como ciência da sobrevivência humana. Para ele, o importante era que a humanidade percebesse e discutisse os rumos pelos quais encaminhávamos. Dizia Potter: “Ar e água poluída, explosão populacional, ecologia, conservação – muitas vozes falam, muitas definições são dadas. Quem está certo?” (PESSINI, 2005, p. 35). Qualquer semelhança com os questionamentos atuais é mera coincidência!
                Para Potter, portanto, esta nova ciência relacionaria o trabalho de humanistas e cientistas e seus resultados seriam sabedoria e conhecimento. Assim a sabedoria seria definida como o conhecimento de como usar o conhecimento para o bem social. A nova orientação é para que a sabedoria seja trilhada em favor de todos, pois agora o que está em jogo é a sobrevivência da humanidade. Figurativamente Potter pensava a bioética como uma ponte entre a ciência biológica e a ética. Potter se expressava da seguinte maneira: “O que me interessava naquele momento, quando tinha 51 anos, era o questionamento do progresso e para onde estavam levando a cultura ocidental todos os avanços materialistas próprios da ciência e da tecnologia. Expressei minhas ideias, do que, segundo meu ponto de vista, se transformou na missão da bioética: uma tentativa de responder à pergunta da humanidade: Que tipo de futuro teremos? E temos alguma opção? Por conseguinte a bioética se transformou numa visão que exigia uma disciplina que guiasse a humanidade como uma ‘ponte para o futuro’”. (PESSINI, 2005, p. 35).
                Mediante suas inquietações Potter desejava criar uma nova disciplina que pudesse realizar uma verdadeira dinâmica e interação entre o ser humano e o meio ambiente. Assim percebemos que Potter além de preocupar-se com as questões cientifico-tecnológicas, torna-se, juntamente com Aldo Leopold, o pioneiro em apresentar uma bioética que, cada vez mais, num futuro seu, que chamamos hoje de presente, volitara-se para a ecologia.
                Ao concluirmos esse artigo não poderíamos deixar de mencionar o nome do obstetra holandês André Hellegers que também reivindica para sí a paternidade da bioética. Hellegers foi o primeiro a utilizar o termo em um centro de estudos. Neste centro denominado: Joseph and Rose Kennedy Institute for the Study of Human Reproduction and Bioethics, que hoje é conhecido apenas como Instituto Kennedy de Bioética, Hellegers animou um grupo de discussão de médicos e teólogos (protestantes e católicos) que viam com preocupação crítica no progresso médico tecnológico enormes e embaraçados desafios aos sistemas éticos do mundo ocidental.
                Em tempos de pós-modernidade podemos dizer que a Bioética tem dois pais! (e porque não?!)
                Hellegers foi o primeiro a utilizar o termo em forma institucional. Desse modo, poderemos dizer que Hellegers possuía uma visão microbioética, preocupando-se com os rumos da bioética clinica. Enquanto Potter, ampliando sua visão de ponte para o futuro, compreendeu uma macrobioética. Cada qual com seus argumentos, nos apresentam verdadeiros caminhos que hoje, em se falando de Aldeia Global, nos possibilita um pensar bioético que olha tanto o que está ao nosso lado, quando àqueles que estão para além de nossos horizontes visuais. Por Marco Aurélio.


O texto foi elaborado com base: PESSINI, L.; BARCHIFONTAINE, C. Um tributo a Potter no nascedouro da Bioética. In: ______. Problemas atuais de Bioética. 7ª ed. São Paulo: Loyola, 2005. p. 33-37.
 [i] Definição encontrada em publicação na internet vide homepage: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bio%C3%A9tica visitada 17 fev 2012.

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