sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CAIR EM DESGRAÇA PARA SABOREAR A GRAÇA


O relato de Gênesis 3 apresenta o pecado que introduz o mal no mundo como uma desgraça e a experiência humana também é reflexo de uma constatação semelhante. Ante o mal, começamos a nos considerar mais vítimas do que culpáveis. 

A serpente seduz com uma tentação diabólica penetrando no corpo de Eva com um desejo que não é seu e por isso aparece, inicialmente, mais como vitima que como culpável. Do mesmo modo, tendemos a pensar que, por uma parte, e no que diz respeito aos pecados pessoais, não fomos capazes de controlar algo que nos tirou de nós mesmos, e por outra, relacionada aos pecados estruturais, ou às injustiças e males que padecemos, mais claramente nos consideramos vitimas de circunstâncias contra as quais pouco ou nada se pode fazer. 

Não cabem muitas dúvidas acerca da direção que apontam tais experiências humanas. Em maior ou menor medida, constatamos que a vida do ser humano está cheia de desgraças e sem sentidos. Por muito claro que víssemos a imagem de Deus gravada em cada pessoa humana nada, mais fácil seria desfigurar-la e até destruí-la, ao invés de rever os absurdos e a dor produzidos pelas injustiças e barbaridades das sociedades atuais.

As desigualdades, a pobreza, a violência, a manipulação, a utilização fraudulenta do poder, ou o consumo desenfreado... Dá a impressão de que o ser humano caiu numa profunda desgraça. Acertadamente, Gonzalez Faus denomina des-graça a esta desgraça. Aí está o quê da questão: agraciados como somos desde os inícios da criação, a raiz de todas as desditas não é outra que rejeitar a Graça de Deus. O ser humano se acha na graça de Deus, somo agraciados na desgraça, fomos recriados, renovados para dar vida, para recriar a vida neste mundo roto, desgraçado. É um dom que nos transforma de verdade, no amor e na amizade que Deus outorga em Jesus. Em, por e com Jesus de Nazaré, o Cristo, encontramos uma saída definitiva à situação de desgraça.

A graça, faz referência a uma realidade profundamente interpessoal tanto em referência a relação de cada um com Deus como a relação entre as pessoas: uma realidade nascida do presente que Deus nos faz em Jesus, para liberar-nos de nossa condição pecadora e introduzir-nos em sua própria vida e realidade divina.  

“Se como criatura o homem experimenta varias limitação, sente-se ilimitado em seus desejos e chamado a uma vida superior” (GS 10). Nos convida a ver que a graça, enquanto autocomunicação salvadora de Deus ao ser humano em sua historia concreta, não só é estranha à sua condição, mas que possibilita a realização mais profunda de seus desejos. 

A graça nos faz autenticamente seres humanos, nos reabilita ou restitui o quanto perdemos pelo pecado: a imagem e semelhança com Deus. Esta é a justificação ou reabilitação que traduzimos como humanização. Rafael Leria

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