quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Comentários à oração da CF 2012


A oração da campanha da fraternidade tem uma estrutura trinitária. Começa falando do Pai, que é Senhor Deus de amor. Mas não é só isso. Deus é Pai de bondade e, portanto somos filhos dele, filhos da vontade de um Deus, que não é distante, mas é amor, como diz a oração. Esse Deus nos dá o dom da vida. Isso é importante notar: a vida é dom. Certamente que é tarefa, mas é em primeira instância dom. A contribuição que a teologia dá para a bioética vai nessa perspectiva: de que a vida tem uma referenciabilidade primeira a Deus Pai. Ele é o criador que com amor cuida da criação. Aqui novamente entra uma questão teológica imprescindível: de que toda a criação é obra de Deus e cuidada por ele; isso é argumento teológico contra toda a má manipulação da vida, contra o desprezo pelo homem. O indicativo na ação de Deus torna-se par nós imperativo (ética). Assim questões como a dignidade humana ou a saúde, estão sustentadas não no homem mesmo, mas na bondade de Deus.
Quando fala do Filho Jesus, a oração diz que ele, em sua misericórdia assumiu a cruz dos enfermos e de todos os sofredores. Jesus, o filho de Deus, se identifica com aqueles que sofrem; ele “tomou nossas enfermidades e carregou nossas doenças” (Mt 8, 17). Assim, assumindo nossas dores em sua páscoa, ele mostra que a nossa última verdade não é a morte. Deste modo, é resgatada a nossa esperança. Também a articulação teológica da pessoa do Filho, contribui para a reflexão bioética: afinal, que peso tem a esperança contra todo o desengano por parte dos médicos? Que peso tem a esperança contra todo o desespero diante da morte que não chega? Ou, quais os significados da solidariedade, da compaixão (assumidas pelo Filho de Deus) para uma medicina cada vez mais desumanizada?
A oração termina pedindo o Espírito. E pede que guie a Igreja, para que ela se faça pela conversão (o que quer dizer que ela não está pronta), solidária às dores e enfermidades do povo – a exemplo do que Cristo foi. Aqui a Igreja reza para que seja testemunho profético. Mas a solidariedade às dores e sofrimentos, jamais pode estar embasada numa fé sem obras. É prudente lembrar o conselho de Tiago: “Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém dentre vós lhe disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos’ e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso?” (2, 16s). Podemos nos apropriar desse conselho na perspectiva da saúde: de que adianta falar em solidariedade, se não fazemos nada pelos enfermos; ou defendermos a dignidade, se não fizermos nada por ela?
Rezar para que a saúde se difunda sobre a terra é essencial. Mas falar de saúde é considerar o ser humano integralmente: sexualmente, afetivamente, fisicamente, psicologicamente. E, se é verdade que nos comprometemos com aquilo que rezamos; então, enquanto Igreja, nós estamos nos comprometendo em cuidar da integridade do ser humano e em cuidar que cuidem dele, integralmente. Esse é um dos papéis fundamentais da Igreja, a meu ver, na discussão bioética. Por Eduardo Rodrigues (aluno)


Nenhum comentário:

Postar um comentário