A
oração da campanha da fraternidade tem uma estrutura trinitária. Começa falando
do Pai, que é Senhor Deus de amor. Mas não é só isso. Deus é Pai de bondade e,
portanto somos filhos dele, filhos da vontade de um Deus, que não é distante,
mas é amor, como diz a oração. Esse Deus nos dá o dom da vida. Isso é
importante notar: a vida é dom. Certamente que é tarefa, mas é em primeira
instância dom. A contribuição que a teologia dá para a bioética vai nessa
perspectiva: de que a vida tem uma referenciabilidade primeira a Deus Pai. Ele
é o criador que com amor cuida da criação. Aqui novamente entra uma questão
teológica imprescindível: de que toda a criação é obra de Deus e cuidada por
ele; isso é argumento teológico contra toda a má manipulação da vida, contra o
desprezo pelo homem. O indicativo na ação de Deus torna-se par nós imperativo
(ética). Assim questões como a dignidade humana ou a saúde, estão sustentadas não
no homem mesmo, mas na bondade de Deus.
Quando
fala do Filho Jesus, a oração diz que ele, em sua misericórdia assumiu a cruz
dos enfermos e de todos os sofredores. Jesus, o filho de Deus, se identifica
com aqueles que sofrem; ele “tomou nossas enfermidades e carregou nossas
doenças” (Mt 8, 17). Assim, assumindo nossas dores em sua páscoa, ele mostra
que a nossa última verdade não é a morte. Deste modo, é resgatada a nossa
esperança. Também a articulação teológica da pessoa do Filho, contribui para a
reflexão bioética: afinal, que peso tem a esperança contra todo o desengano por
parte dos médicos? Que peso tem a esperança contra todo o desespero diante da
morte que não chega? Ou, quais os significados da solidariedade, da compaixão
(assumidas pelo Filho de Deus) para uma medicina cada vez mais desumanizada?
A
oração termina pedindo o Espírito. E pede que guie a Igreja, para que ela se
faça pela conversão (o que quer dizer que ela não está pronta), solidária às
dores e enfermidades do povo – a exemplo do que Cristo foi. Aqui a Igreja reza
para que seja testemunho profético. Mas a solidariedade às dores e sofrimentos,
jamais pode estar embasada numa fé sem obras. É prudente lembrar o conselho de
Tiago: “Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o
necessário para a subsistência de cada dia, e alguém dentre vós lhe disser: ‘Ide
em paz, aquecei-vos e saciai-vos’ e não lhes der o necessário para a sua
manutenção, que proveito haverá nisso?” (2, 16s). Podemos nos apropriar desse
conselho na perspectiva da saúde: de que adianta falar em solidariedade, se não
fazemos nada pelos enfermos; ou defendermos a dignidade, se não fizermos nada
por ela?
Rezar
para que a saúde se difunda sobre a terra é essencial. Mas falar de saúde é
considerar o ser humano integralmente: sexualmente, afetivamente, fisicamente,
psicologicamente. E, se é verdade que nos comprometemos com aquilo que rezamos;
então, enquanto Igreja, nós estamos nos comprometendo em cuidar da integridade
do ser humano e em cuidar que cuidem dele, integralmente. Esse é um dos papéis
fundamentais da Igreja, a meu ver, na discussão bioética. Por Eduardo Rodrigues (aluno)
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