O que é o Homem? Ele, efetivamente, existe? Ainda somos capazes de
humanidade? Tais perguntas não são sem sentido, nem tampouco desprovidas de
senso crítico, ao contrário. Elas nos pedem distância da alienação a que muitos
de nós nos deixamos acostumar.
Ao longo da sociedade, fomos capazes de produzir duas grandes
guerras (1914 – 1917 e 1939 – 1945), sem falar dos inúmeros genocídios,
violências entre povos, nações, etnias e uma infinidade de mortes por causa de
nossos preconceitos e discriminação religiosa, sobretudo. Usamos, com empenhado
esforços, nossas capacidades intelectivas para planejarmos e executarmos, com
precisão, armamentos de potências e alcances inimagináveis. Aventuramo-nos na
imensidão do cosmo, na estratosfera, em busca de possíveis vidas fora do nosso
planeta, mas somos incapazes de nos sensibilizarmos pelas tantas outras que
morrem à míngua próximas a nós. Admiramos e enamoramos a lua e almejamos conhecer
outros mundos, mas continuamos, desenfreadamente, destruindo nossa casa comum:
o planeta em que vivemos.
Frente a tantas realidades que enlutam nossa dita “humanidade”,
perguntas como as acima citadas não me parecem fora de propósito. Se houve, no
passado, grandes questões acerca de Deus: se Ele existe, se é capaz de intervir
na história e se o podemos provar, hoje, diferentemente de outrora, urge-nos a
questão mais íntima e mais próxima: somos, verdadeiramente, capazes de
humanidade? Há ainda no mundo e no homem, sinais profícuos de sua humanidade
perdida? Como e o que dizer do homem que atenta contra um seu semelhante e o
reduz à condição de não existência, pelo único fato de não pertencer à sua
camada social, religião ou partido político?
De fato, já não nos escandalizamos mais com os horrores da guerra do
passado, nem com as que visualizamos cotidianamente nas grandes e pequenas
cidades.
A questão atual não está mais centrada na pessoa ou na esfera do
divino; não mesmo. Mas está, sim, na pessoa humana. É antropológica. Por que
não nos condoemos mais com a dor alheia ao ponto de assumi-la como nossa? Para
onde foi nossa indignação ativa quando descoberto que a corrupção mata e
empobrece um nosso semelhante? Por que as grandes enchentes e as enormes
catástrofes naturais – terremotos, tsunames, fome, sede – não nos retira de
nosso comodismo abissal e nos coloca em campo de missão, de batalha pelo fim ou
ao menos amenização de tantos sofrimentos? Por que nossas “entranhas” não se contorcem
mais diante de tudo isso? Por que matamos um outro a pauladas, pontapés,
incinerado como lixo ou arrastado com o carro, pelo inexplicável fato de ele
torcer por um time contrário ao nosso; por não ter a orientação sexual que
julgamos normal ou por simplesmente morar na rua, sob as pontes ou por nos ter
buzinado freneticamente no trânsito?
Em pleno século XXI, pós-iluminismo, plenos de razão e envoltos na
chamada pós-modernidade, podemos ainda, olhando-nos por sobre as frestas que
ainda nos resta, quem sabe fumegante ou quase extinta, considerarmo-nos “amigos
da vida”? Estamos adeptos a ética do
cuidado, da responsabilidade, cujas questões a bio-ética incide sobre nós?
Por fim: o humano existe? Algum dia existiu? Somos ainda capazes de forjá-lo? Ou ao menos dar-lhe
passagem?
Por Claudemar Silva.
Crédito da foto: http://www.blackloveandmarriage.com/wp-content/uploads/2011/10/couple-facing-each-other.jpg
O olhar sobre os notiários, as conversas em pontos de ônibus, ou pelas ruas do bairro onde vivemos, tende a nos colocar profundamente decepcionados e pessimistas, em relação à humanidade. São casos de brutalidades que, como apontadas no belíssimo texto, chocam-nos e nos fazem levantar as sérias perguntas, acima propostas. Diante de tantas ambivalências, cabe-nos transformar a realidade, com passos simples, mas que valorizem o valor da vida, a bom educação, a solidariedade, o respeito ao próximo. Virtudes tão escassas em nossos dias. Se se fala de uma potencialiade de pessoa, por exemplo em embriões, por qual motivo não formemos pessoas, no lugar de máquinas egocêntricas e inumanas? (Felipe Magalhães Francisco)
ResponderExcluirFelipe, meu teólogo preferido, A. Gesché, afirma que o homem é "capax dei", i.é, somos capazes de fazer a experiência de um Deus que se autocomunicou a nós. Todavia, penso eu, que a grande, se não o maior dos desafios atuais, sermos "capax homini". Ás vezes, e não são poucas, sentimo-nos des-esperançados perante as realidades que nos cercam; e são tão aviltantes, mas, ainda assim, é preciso acreditar contra toda a visão que se nos apresenta. É olhando para homens como vc, meu amigo, que sei, podemos nos humanizar de novo; sempre.
ResponderExcluirabraço amigo...