quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Conhecimentos científico humanista: um diálogo possível?



Que a sociedade se evoluiu, isso não há dúvidas. Diríamos que, ao longo da história, no ocidente, especialmente, nos mais de 2000 anos, há no mínimo três grandes momentos: a chamada era Cristã (a partir do séc. IV), o Iluminismo (Séc. XVII-XVIII, com a Revolução Francesa) e agora, o advento da tecnologia (sécs. XIX e XX).
A sociedade sempre optou pelo conhecimento: “uma vida não examinada não merece ser vivida” (Sócrates. A República). Em sua busca, empreenderam-se homens e mulheres ao longo da história humana. Filósofos, matemáticos, cientistas, teólogos e tantos outros não se deixaram aquietar pelo até então açambarcado. Era (e é) sempre possível ir além;  um pouco mais. O saber se tornou técnica, e vice-versa, e esta, atualmente, torna-se informação rápida e, por isso mesmo, fugaz. Nunca, como agora, vale tanto mais o conhecimento empreendido e posto a serviço de tudo, inclusive do crime, da corrupção e de tantas outras formas de aniquilação humana. De fato, os dias corroboram o ditado: “saber é poder” (J. J. Rousseau).
A ciência evoluiu e, com o auxilio tecnológico, ganhou patamares jamais pensados. O seu desdobramento suscitou na comunidade médica o cuidado de pensá-la por meios eticamente plausíveis. Assim, em 1970 surge o ramo da bioética que tem como pressuposto o cuidado com a vida em toda a sua extensão. Pensá-la e executá-la da forma mais eticamente aceitável, dentro dos ditames de uma ética embasada na humanização e promoção da vida humana e de todo o ecossistema. O grande desafio, em nossos dias, é unir o chamado saber científico, apurado, tecnicizado, fragmentado, instrumentalizado e o chamado saber humanista. De fato, a separação entre esses dois conhecimentos causa um grande prejuízo ao ecossistema.
Frente aos desafios que se alargam com a primavera dos meios tecnológicos, cibernéticos, sempre mais avançados, adaptados pela ciência moderna, urge a construção de uma “ponte” entre esses dois saberes, científico e humanista, possibilitando a essas duas culturas um diálogo franco, amistoso e progressivo, em benefício da vida, em última instância. Uma vida que, apesar dos avanços sempre mais acelerados, não se diminuíram os riscos e atentados contra a sua continuidade nesta terra. Não são poucas as ocasiões em que a vemos humilhada, ameaçada, desrespeitada e ignorada.
O oncólogo Van Rensselaer Potter[1], quem primeiro cunhou o termo “bioética”, sublinha a “necessidade de que a ciência biológica se faça perguntas éticas, de que o homem se interrogue a respeito da relevância moral de sua intervenção na vida” (POTTER, in SGRECCIA, 1996, p. 24). A grande preocupação de Potter é que, este poder que dizemos acima, torne-se, em suma, numa grande ameaça à vida humana. Afinal, este poder biotecnológico nas mãos de poucos, pode se caracterizar um alarme, visto que diante das novas possibilidades tecnológicas, frente à vida humana, esta seja reduzida ao seu estágio de morte, de inanição, ou mesmo a uma subvida.
Desse modo, a visão ética que ousa englobar num diálogo o maior número possível de saberes, ousa, sobretudo, o respeito ao ecossistema, primando por uma visão holística e que dê condições de sobrevivência saudável e respeitada por todos. Uma ética que não seja fragmentada, mas que ouse integrar-se, assim como só podemos mensurar um ser humano que esteja satisfatoriamente integrado, total e uníssono em sua condição humana. Por Claudemar Silva (aluno).

Crédito da foto: http://phenomenologyftw.files.wordpress.com/2011/02/knowledge_jeezny.jpg


[1] SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética. São Paulo: Loyola, 1996.

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