domingo, 26 de fevereiro de 2012

Sofrimento: ter ou não ter? Eis a questão!


 

“É melhor a morte do que a vida cruel, o repouso eterno do que uma doença constante” (Eclo 30,17)

Não se espante: O presente artigo nos trará muito mais perguntas, além das que já temos, do que respostas, das tantas que buscas!
Algo inevitável em nossas vidas é em algum dado momento passarmos pelo sofrimento, seja ele, psíquico, emocional e principalmente físico. Dizem alguns que se uma pessoa se diz 100% feliz, essa deve com urgência procurar ajuda especializada, pois sofre de um mal gravíssimo que ainda não veio à luz.
Se falarmos de sofrimento emocional já é um problema grave, quando nos referimento ao sofrimento físico, esse toma uma proporção que extrapola as salas dos consultórios ou os leitos de dor e atingem a todos. Instancias religiosas (teológicas), politicas, filosóficas, sociológicas e tantas “cas” mais, tentam dar um sentido ao sofrente: ora para suportar o sofrimento (re)significando tal situação em prol de algo superior; ora rejeitando por completo, pois o importante é o prazer absoluto e por isso o sofrimento necessariamente deve ser definitivamente excluído; ora apresentando-lhe itinerários para eliminar-se a si, para extinguir o sofrimento que o assola.
E é ai que chegamos a um dos mais polêmicos e discutidos assuntos da bioética: a Eutanásia.  
Etimologicamente falando a Eutanásia vem do grego que significa: eu “boa” e thanatos “morte”, ou seja, boa morte, sem dores e angústias. Esse era o sentido original utilizado pelo Estoicismo. Para eles, como Sêneca, o sábio podia e devia assumir sua própria morte quando a vida não tivesse mais sentido para ele.
Modernamente falando, a partir do século XVII com Tomás Morus e Roger Bacon, o termo passa a ter como sentido o ato de pôr fim à vida de uma pessoa enferma. Na atualidade o termo ganha o sentido mais estreito de ser a prática pela qual se busca abreviar, sem dor ou sofrimento, a vida de um doente reconhecidamente incurável.
No entanto, logo de inicio duas correntes digladiam-se em questões que possivelmente nos deixam sem resposta: Lancemos as cartas:
Por um lado, os contra a eutanásia se questionam se à alguém pode ser concedido o direito de tirar a vida de outrem? Além disso, até que ponto o sofrimento do enfermo não lhe trás questões psicológicas que o pressionam internamente a tomar “livre” tal decisão? (incomodo familiar, acreditar que não tem mais o que contribuir com a sociedade vigente, não ter mais sua liberdade plena). Outra ainda, até que ponto a ciência e a tecnologia podem assegurar que nenhum errado poderá ocorrer e que o diagnostico de irreversibilidade de determinada doença é 100% garantida? E até que ponto, o eliminar os doentes profundos de nossa sociedade não seria outra forma mascarada de tentarmos criar uma sociedade dos produtivamente ativos? (purificação da raça?!?!)
Por outro lado, os que são a favor da eutanásia apresentam suas teses: Deve a vida humana, independentemente de sua qualidade, ser sempre preservada? É dever do médico e dos hospitais sustentar, indefinidamente, a vida de uma pessoa que, por exemplo, já foi constatado irreversivelmente lesado em seu encéfalo, por meio de respiração artificial e alimentação parenteral? Até quando será permitido sedar a dor, ainda que isso signifique um abreviamento de vida? Já que a pessoa humana tem o direito à vida, assegurado pelos Direitos Humanos, até que ponto essa mesma pessoa não teria direito a escolha da morte?
Ufa quem tem as respostas que atire os primeiros comentários...
Esses são apenas alguns pequenos questionamentos dos inumeráveis postos tanto por uma facção quanto pela outra.
O fato é que a eutanásia, pratica já liberada em alguns países oficialmente, e praticada nos quatro cantos do mundo, nos tão famosos chás da meia-noite, é algo que permeia a sociedade de outrora e de hoje. Podemos arriscar a dizer que, sentenciarmos tal questão: pro ou contra, para aqueles que estão de fora, torna-se tarefa de escolha, por vezes mui tendenciosa. Debruçarmos sobre a questão, colhermos os casos já existentes, aprendermos com eles e até mesmo os viver em nossas reflexões, podem nos ser de grande auxilio ao expressarmos nossos pareceres.
Missão difícil: SIM! Impossível: JAMAIS!
Por Marco Aurélio.

Texto baseado na aula dada pelo professor Germano no dia 23/02/2012 no curso de Teologia da FAJE
PESSINI, L.; BARCHIFONTAINE, C. Eutanásia: Por que abreviar a Vida?. In: ______. Problemas atuais de Bioética. 7ª ed. São Paulo: Loyola, 2005. p. 371-403

Um comentário:

  1. André, belo artigo! Gostei da leitura. Contudo, como você mesmo conclui a reflexão: faz-se necessário "colhermos os casos já existentes, aprendermos com eles e até mesmo os viver em nossas reflexões". A discussão da Eutanásia na sociedade brasileira ainda é bastante tímido... Mas eu paro a refletir o seguinte: quem de nós pode avaliar o tamanho ou extensão do sofrimento do outro? Quem somos nós para decidir o fim da vida de uma pessoa? Uma vez que a vida pertente ao criador? Mas é uma questão que só poderemos responder quando de fato o vivermos na nossa própria carne. É uma "missão difícil: SIM! Impossível: JAMAIS!"

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