quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Uma abordagem filosófico-teológica no filme “A Árvore da Vida”

O recente filme, A árvore da vida (2011), da premiada diretora Terrence Malick, trouxe à tona, numa cinematografia impecável e fotografia digna de obra de arte, a temática da liberdade humana, ancorada nas escrituras sagradas, especialmente no livro do Gênesis e que perpassa toda a hermenêutica bíblica: “E o Senhor Deus fez brotar da terra (...) a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal”. (Cf. Gn 2,6). Dizer desta liberdade responsável a que somos chamados é evindenciar a proposta de Deus ao ser humano: “diante de ti ponho a vida e ponho a morte” (cf. Dt 30,19). 

Ou, ainda, como bem recordou-nos o existencialista Sartre, estamos todos condenados à liberdade (tradução livre), embora, para este pensador, isso seja taxado como algo quase execrável de nossa condição humana, e não como dom, maravilhoso dom, tal como nos propõe o cristianismo. Nossa fé, embasada numa liberdade que tem em Deus o seu respaldo, evidencia, contrariamente aos pessimistas de Dostoieviski em sua obra Crime e Castigo, “se Deus não existe tudo nos é permitido”, contrariamos dizendo que, “se Deus não existe, nada nos é permitido” (Camus, in A. Gesché), pois, efetivamente, “tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (I Cor ´6, 12). 

“Árvore da Vida” é uma trama que serve de pretexto para uma reflexão filosófico-teológica muito maior, que não respeita linearidade – essas poucas linhas anteriores estão embaralhadas ao longo das quase duas horas e meia de projeção e concentradas no miolo, quando a história mais se aproxima do tradicional. Malick se libertou do roteiro em busca de um cinema livre, liberto de amarras e das convenções de Hollywood. 

As grandes abordagens estão na aérea da ética e da relação com Deus: das dúvidas infantis ("onde você mora?"), passando pela moral ("por que eu deveria ser bom, se você não é?") até a pura revolta ("Ele envia moscas às feridas que deveria curar"). A discussão é emoldurada por insistentes planos em contraluz, como que para atestar que aquela luz brilhando ao fundo comprova a presença divina. 

"A Árvore da Vida" é, desse modo, uma parábola clara de uma profissão de fé de Terrence Malick, adotando um tom explicitamente solene, regado a ópera e citações bíblicas, para questionar as opções que o homem tem diante de si, tais como a graça ou a perdição. Um filme que, dentre os turbilhões estéticos apresentados, nos coloca em xeque com nossas escolhas que, livres, conscientes ou não, irão respaldar, indubitavelmente, sobre nossa existência humana. 

Desse modo, diante da ciência e das escolhas muitas vezes arbitrárias que tomamos, cientistas ou não, todas elas, direta ou indiretamente, incidirão sobre nossa humanidade, já tão ferida e transpassada pelos horrores da guerra, da violência e do descaso. Oxalá nossos meios atuais, tão potentes e dignos de “fé”, nos ajudem a redescobrir nosso “paraíso perdido”, a saber, nossa humanidade aviltada. Por Claudemar Silva (aluno).

Créditos da foto: http://onemoviefiveviews.files.wordpress.com/2011/01/the-tree-of-life-poster.jpg

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