O novelista
Aguinaldo Silva, autor de muitos e renomados personagens televisivos (quem não
se recorda de Nazareh Tedesco, em Senhora do Destino, igualmente vivida pela
brilhante atriz Renata Sorrah?), coloca, na pauta do dia, em sua obra Fina
Estampa, novela do horário nobre da Rede Globo, mais um caso envolvendo
questões familiares. Desta vez, o novelista recorre à ciência moderna
(fertilização in vitro) para falar de uma fecundação assistida, onde o maior drama é
o envolvimento afetivo da personagem Danielle Fraser (Renata Sorrah) com os
pacientes que a procura, a saber, Esther, vivida pela atriz Julia Lemmertz, e
Paulo, o ator Dan Stulbach.
O núcleo
envolvendo a médica e cientista Danielle Fraser tem suas vidas reviradas ao
avesso quando, procurada pelo casal Esther e Paulo, com dificuldades para a
gravidez, a médica os aconselha a optarem pela fertilização in vitro.
Paulo é totalmente contra, pois acredita não poder se sentir efetivamente pai,
uma vez que é tido como estéril, tendo que optar por espermas de outrem.
Esther, no entanto, vê nesta sua única possibilidade de ser mãe. E, a contragosto
do marido, aceita se submeter ao tratamento. Danielle Fraser comete o ato
eticamente questionável de, nesta situação, ver a possibilidade de dar ao irmão
morto em um acidente, o filho que ele tanto
queria, utilizando assim seus espermatozóides congelados e os óvulos doados
pela antiga namorada do irmão.
Até aí,
diríamos, a ciência corrobora com o desejo do ser humano de constituir família,
vai ao encontro de seus anseios e não
prejudica ninguém. Nossa sensibilidade, quer amena ou mais apurada, aqui,
embalada pelo folhetim romanesco, não veria maiores danos. No entanto, apesar
das controvérsias ainda existentes nos casos de fertilização in vitro,
com o descarte dos embriões não aptos ou desnecessários, o processo todo, como
sabido, é longo e doloroso, especialmente para a mulher. A novela, no entanto,
como obra ficcional, ganha em disparada dos casos reais. Em uma única tentativa,
a fecundação foi um sucesso.
O debate
poderia sim, ter sido melhor considerado e levado a um patamar mais digno da
discussão que ele merece. Ainda há muitas dúvidas e controvérsias, porém o
novelista, ao que nos parece, preferiu seguir pelo caminho do sensacionalismo,
aparentando pouco preparo e reta intenção para o debate social. Nos capítulos
que se seguem ao desdobramento do folhetim, quando descoberta as ações pouco
convencionais e eticamente questionáveis, eis que a médica, Danielle Fraser,
emite o clássico, porém desprovido de qualquer senso crítico e condizente com o
tempo atual, tecnológico-científico no qual vivemos: “quis brincar de ser
Deus”.
Esse discurso,
além de corroborar um pensamento diluído no senso comum, veta qualquer
possibilidade de diálogo mais sincero e respaldado pelas razões plausíveis que,
tanto a ciência quanto a fé são capazes de oferecer ao homem pós-moderno. Optar
por uma argumentação como esta, além de perder a oportunidade de um debate
saudável que o tema poderia suscitar na sociedade, o novelista, com sua
pretensão costumeira e o aparente despreparo para o assunto, “brindou-nos” com
um enorme desserviço ao esforço até agora perpetrado entre ciência e religião.
A novela chega ao fim sem causar os rumores esperados e sem nenhum contributo
aparente. Por Claudemar
Silva (aluno).
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