A busca pela felicidade e a realização
está presente em todo ser humano. Em cada época e cultura abrem-se novos
caminhos que “prometem” conduzir a humanidade à felicidade eterna. Em nossa cultura contemporânea há uma busca
frenética pela vida feliz na cidade
dos homens, ou seja, não se espera por uma realização futura, mas busca-se a
felicidade no aqui e agora. O bem-estar físico, psíquico, afetivo, social e
espiritual está entre as grandes preocupações da humanidade. Por outro lado,
nega-se todo tipo de sofrimento, dor, fracasso, morte, etc. Às vezes,
esquecemos que a nossa condição humana é finita, limitada e que a crise faz
parte do desenvolvimento humano.
Evidencia-se, em nossa sociedade, uma
rejeição da velhice e a negação da morte. Neste sentido, o homem econômico da sociedade do mercado e do lucro é visado tão
somente como um sujeito/objeto de possibilidade de lucro. Em nome da vida eterna
na cidade dos homens, justifica-se, por exemplo, a eutanásia, pois a velhice
torna-se um peso para a família, para o Estado, além de ser um contra-senso
para a ideologia da eterna juventude. O que está em jogo, em última instância,
é a nova antropologia que busca afastar do convívio social tudo aquilo que
possa nos lembrar que somos seres finitos. “A velhice nos faz lembrar daquilo
que é proibido na nossa sociedade, sobre o qual não se deve falar em público,
do tabu que tomou o lugar da sexualidade como ‘o’ tabu do nosso mundo contemporâneo:
a morte. Coisas e fatos que nos lembram o tabu devem ser escondidos e
esquecidos, tornados invisíveis”.[1]
Percebe-se que negação da morte e a
promessa da imortalidade “abandonaram” os discursos das sacristias e
empossaram-se das clínicas e laboratórios. Há uma busca de superação da nossa
condição humana, como afirma Paula Sibilia, “em oposição à tradição prometéica
que pensa a tecnologia como a possibilidade de estender e potencializar
gradativamente as capacidades do corpo (sem aspirar ao infinito, guardando
certo respeito pelo que é humanamente possível e pelo que ainda pertence ao
território divino), a corrente fáustica enxerga na tecnociência a possibilidade
de transcender a condição humana. Assim, valendo-se da nova alquimia
tecnocientífica, o ‘homem pós-biológico’ teria condições de superar as
limitações impostas pela sua organicidade, tanto no nível espacial quanto
temporal. Adequadamente definido como ‘fáustico’, tal projeto é extremamente
ambicioso: valendo-se dos sortilégios digitais ele contempla a abolição das
distâncias geográficas, das doenças, do envelhecimento e da própria morte”.[2]
Segundo Mo Sung (2005, p.112), “a invisibilidade dos velhos é a ponta do iceberg da profunda crise espiritual que
atinge a nossa civilização. A raiz da nossa crise está no desejo de superar a
condição humana pela acumulação ilimitada
de riqueza, que causa a destruição do meio ambiente e a exclusão social de uma
grande parte da população mundial”.
Desta forma, conclui-se que numa
cultura que nega o corpo real em nome de um corpo ideal, que tenta esconder
tudo aquilo que traz à memória a nossa condição humana, que tenta eternizar a vida na cidade dos homens
somos mais que tentados a acreditar que o ser humano encontrou a sua “maioridade”
e que tudo “está consumando”. Mas será que não há mais espaço para a esperança?
Será que a tecnociência finalmente conseguiu des-velar todo mistério do homem?
Será que ainda podemos nos considerar seres humanos ou já superamos este corpo de carne tornando-nos máquinas
robotizadas? Não apresentar respostas apressadas que tocam apenas
tangencialmente tais questões, mas o pensador que procura ser honesto com a sua
tarefa de refletir, jamais poderá excluir tais indagações de sua agenda. Por Rodrigo Ferreira da Costa (aluno).
Crédito da figura: http://www.overmundo.com.br/uploads/banco/multiplas/1242277856_corda_bamba.jpg
[1] Cf. SUNG, J. Mo. Sementes de esperança: a fé em um mundo
em crise. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 104.
[2] SIBILIA, Paula. O homem pós-orgânico: corpo,
subjetividade e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2002, p.
13-14.
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