domingo, 26 de fevereiro de 2012

Mulheres bem resolvidas


           Estava eu passando os canais da televisão em plena Quarta-feira de Cinzas, quando me deparo com uma entrevista num programa culinário matinal. A famosa apresentadora entrevistava a Dra. Vera Beatriz Fehér Brand diretora do primeiro banco de sêmen do Brasil. A doutora, formada em veterinária, era entrevistada a respeito da polemica que, a novela em horário nobre da mesma emissora, lançará no ar, a saber: reprodução assistida.
         Até então nada de novo! Vera Brand apresentava as falhas realizadas pela personagem no processo de reprodução assistida e deixava clara a verdadeira conduta ética do médico num processo delicado como esse.
                Eis que na parte final da entrevista a doutora utilizou uma expressão que se não nos trouxer espanto, pelo menos nos balançar e fazer pensar isso deve ocorrer. Contando um caso de uma determinada cliente (ou paciente) a doutora usou o termo “uma mulher bem resolvida”. Falava ela que essa paciente, bem resolvida, independente financeiramente, bem sucedida no mundo dos negócios, resolveu ter um filho. Como se referia de uma mulher completamente independente ela simplesmente procurou a doutora e comprou o sêmen e resolveu ter seu filho “sozinha”. No entanto, como é quase normal de acontecer em reprodução assistida, ela ficou gravida de trigêmeos. Completando a arguição da entrevistada, a apresentadora realçou: “As mulheres já são independentes em tudo, também querem elas sua independência para ter seus filhos”.
                Não muito distante compreendíamos que a reprodução assistida apresentava-se como uma técnica para que os casais que, enfrentavam dificuldades para conceber um filho, tivessem um auxilio médico para propicia-los essa alegria de gerar vidas. No entanto, ao nos depararmos com tal argumentação, cabemos agora olhar com maior cautela e percebermos até que ponto a técnica não está sendo mais um apoiador nos distanciamentos das relações entre os seres humanos.
                Que as mulheres já galgaram seus espaços no mundo, isso é um fato, notável e notório. Mas até que ponto as mulheres bem resolvidas, que desejam ter seus filhos sozinhas, na verdade não estão é tentando se isolar cada vez mais das relações, cabe nos pensar. E nesse sentido, seria mesmo melhor utilizarmos o termo “Bem resolvidas”?
                 A bioética necessariamente deve se fazer presença, efetiva e afetiva, esses casos. Não será possível um mundo sustentável, se cada vez mais nos esquivamos de nos relacionarmos uns com os outros. Para dar sentido para as gerações vindouras precisamos sim sentarmos uns com os outros e comermos muitos saquinhos de sal juntos. (utilizando a expressão que minha avó gostava muito de usar, para dizer como é difícil conhecermo-nos uns aos outros).
                Seremos homens e mulheres bem resolvidos quando passarmos a ser não apenas especialistas nas varias técnicas que criamos, mas a partir do momento que fomos doutores em relações. Relações que não são virtuais, anônimas, casuais. Mas são relações verdadeiras, sinceras, com raízes, duradouras. Relações que nos permitam compreender o outro não apenas um facilitar para conseguir o que queremos, não para galgar mais degraus na difícil disputa da vida, mas alguém que caminha junto, sofre junto, experiência novos caminhos juntos.
                Seremos sim mui bem resolvidos quando o outro não for mais tabu, assombroso, medonho. Mas com o outro trilharemos sonhos, geraremos vidas, sustentaremos esperanças, construiremos pontes. Ai sim, se a biologia não nos propiciar a felicidade da geração, as técnicas nos ajudaram, em conjunto, a trilharmos projetos de esperança.
                Que nós num futuro muito presente consigamos nos encontrar numa sociedade de pessoas excelentemente bem resolvidas! Por Marco Aurélio (aluno)


Inspirado em uma entrevista realizada no programa Mais Você da Rede Globo que foi ao ar no dia 22 de fevereiro de 2012.

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