quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Vaidade das vaidades, tudo é vaidade...



O sábio Kohelet já dizia que debaixo do sol tudo não passa de sofrimento, fadiga e ilusão. A riqueza, o sucesso, o poder, o conhecimento são “vaidade das vaidades,  tudo é vaidade!”[1] Diante desse  aparente ceticismo do sábio de Israel, poderíamos nos perguntar: será que a corrida científica e tecnológica também não é uma vaidade das vaidades? No século XX o mundo assistiu a corrida armamentista na qual cada um queria mostrar o seu poder econômico, militar e político através das armas, bombas e ameaças... Será que não estamos vivendo algo de semelhante nas disputas científicas e tecnológicas hoje? O discurso que aparece é o desejo de “cuidar da vida”, “diminuir o sofrimento”, “prolongar nossos anos sobre a terra”... Mas por trás deste discurso politicamente correto, pode esconder uma competição egológica da parte dos políticos (Estados) ou mesmo de cientistas preocupados tão somente com o sucesso e o enriquecimento que suas pesquisas gerarão. Por isso “equipes de pesquisadores, hoje, disputam entre si recursos econômicos e êxito profissional. Como as empresas capitalistas competem no mercado basicamente com produtividade e preço – quem produz mais pode vender a um preço menor e com isso vende mais – as equipes de pesquisa também concorrem com produtividade e eficiência. Necessitam produzir muito e convencer os financiadores de que seus resultados realmente ajudarão a resolver os problemas”. [2]
Não queremos ser céticos. Entretanto há evidências que justificam nosso modo de pensar. Se há tanta preocupação em combater o câncer e outras doenças, por exemplo, por que, então, não proíbem o uso de agrotóxicos nas plantações? Ao contrário, o que se percebe são o incentivo e o financiamento público para o uso de agrotóxicos a fim de que os produtores possam lucrar mais e mais. Se se quer prolongar a vida na terra, por que não se busca uma ação comum para acabar com a fome no mundo que ainda mata milhões de pessoas todos os anos?
Nota-se que a pessoa humana nem sempre é colocada em primeiro plano. O respeito à vida e à dignidade da pessoa humana é visto, muitas vezes, como obstáculo para desenvolvimento científico e tecnológico. Assim sendo, a vida humana é constantemente submetida ao valor econômico, que a instrumentaliza em função do lucro e da satisfação de interesses particulares. Mas onde está o limite da ciência e da técnica? Será que elas são oniscientes e onipotentes?
A bioética quer ser uma voz que clama na multidão. Não querendo ser contra todo o tipo de avanço científico-tecnológico, mas procurando ajudar a tecnociência a olhar mais longe e perceber que a vida é o dom maior. Por Rodrigo Ferreira da Costa (aluno).


Crédito da figura: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLXYXYQnIElZEeM9Af77GCYvO60eGsVlefbjnKtgaTNpBurglDEnlk-VjaG_SpwlZ49dWXF5W2Pu7wwE50Zf_IBE5iSi9VJmbsyqOAecu2y7D09HYwG-EiJAXR1BqlI1rd-sV2PJqGTdAn/s1600/narciso_caravagio.jpg

[1] Cf. Eclesiastes 1, 2
[2] Texto-Base da Campanha da Fraternidade de 2008, n. 46. 

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