O sábio Kohelet já dizia que debaixo do
sol tudo não passa de sofrimento, fadiga e ilusão. A riqueza, o sucesso, o
poder, o conhecimento são “vaidade das vaidades, tudo é vaidade!”[1]
Diante desse aparente ceticismo do sábio
de Israel, poderíamos nos perguntar: será que a corrida científica e
tecnológica também não é uma vaidade das vaidades? No século XX o mundo
assistiu a corrida armamentista na qual cada um queria mostrar o seu poder
econômico, militar e político através das armas, bombas e ameaças... Será que
não estamos vivendo algo de semelhante nas disputas científicas e tecnológicas
hoje? O discurso que aparece é o desejo de “cuidar da vida”, “diminuir o
sofrimento”, “prolongar nossos anos sobre a terra”... Mas por trás deste
discurso politicamente correto, pode esconder uma competição egológica da parte dos políticos
(Estados) ou mesmo de cientistas preocupados tão somente com o sucesso e o
enriquecimento que suas pesquisas gerarão. Por isso “equipes de pesquisadores,
hoje, disputam entre si recursos econômicos e êxito profissional. Como as
empresas capitalistas competem no mercado basicamente com produtividade e preço
– quem produz mais pode vender a um preço menor e com isso vende mais – as
equipes de pesquisa também concorrem com produtividade e eficiência. Necessitam
produzir muito e convencer os financiadores de que seus resultados realmente
ajudarão a resolver os problemas”. [2]
Não queremos ser céticos. Entretanto há
evidências que justificam nosso modo de pensar. Se há tanta preocupação em
combater o câncer e outras doenças, por exemplo, por que, então, não proíbem o
uso de agrotóxicos nas plantações? Ao contrário, o que se percebe são o
incentivo e o financiamento público para o uso de agrotóxicos a fim de que os
produtores possam lucrar mais e mais. Se se quer prolongar a vida na terra, por
que não se busca uma ação comum para acabar com a fome no mundo que ainda mata
milhões de pessoas todos os anos?
Nota-se que a pessoa humana nem sempre é
colocada em primeiro plano. O respeito à vida e à dignidade da pessoa humana é
visto, muitas vezes, como obstáculo para desenvolvimento científico e
tecnológico. Assim sendo, a vida humana é constantemente submetida ao valor
econômico, que a instrumentaliza em função do lucro e da satisfação de
interesses particulares. Mas onde está o limite da ciência e da técnica? Será
que elas são oniscientes e onipotentes?
A bioética quer ser uma voz que clama na multidão. Não querendo
ser contra todo o tipo de avanço científico-tecnológico, mas procurando ajudar
a tecnociência a olhar mais longe e perceber que a vida é o dom maior. Por Rodrigo Ferreira da Costa (aluno).
Crédito da figura: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLXYXYQnIElZEeM9Af77GCYvO60eGsVlefbjnKtgaTNpBurglDEnlk-VjaG_SpwlZ49dWXF5W2Pu7wwE50Zf_IBE5iSi9VJmbsyqOAecu2y7D09HYwG-EiJAXR1BqlI1rd-sV2PJqGTdAn/s1600/narciso_caravagio.jpg
[1]
Cf. Eclesiastes 1, 2
[2]
Texto-Base da Campanha da Fraternidade de 2008, n. 46.
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