sábado, 25 de fevereiro de 2012

CRIADOS CRIADORES SOLIDARIOS

“Mais cara de redimidos deveriam ter” pronunciava Nietzsche contra os cristãos de seu tempo. Deus se havia convertido em uma carga pesada para o ser humano e perturbava a existência. Para muitas pessoas de nossos dias, também para alguns cristãos, a religião resulta numa sobrecarga ao impor a imagem de um Deus de quem vem obrigações suplementares para uma vida já cheia de obrigações. Deus continua ainda sendo apresentado como um senhor que ordena e manda, premia e castiga e carrega a vida do ser humano.

Nada mais oposto a verdade de Deus e ao alvo da religião. Deus não mais que amor e a religião uma construção humana sob os problemas fundamentais de sua existência e as correspondentes pautas de conduta para enfrentar-se a eles.

A experiência do ser humano mudou radicalmente e os cristãos se mantém ancorados em conceitos, modos e formulações velhas, ininteligíveis quanto não incríveis e reprováveis por desestimar a liberdade e autonomias do ser humano.

O Deus que cria por amor e a partir do amor, cria criadores, e é sem duvida um dos melhores pontos de partida para se abordar a urgente necessidade de re-traduzir a mensagem cristã. A re-tradução do cristianismo foi uma demanda permanente na Igreja ao longo deste século. As vozes que se alçaram para denunciar que alguma coisa não estava dando certa entre o ser humano moderno e o Deus que se apresentava multiplicam-se até o Concilio Vaticano II. Os câmbios fundamentais introduzidos pelo Concílio na orientação da fé e religião cristã está sendo esquecida.

Não podemos fechar-nos em quartéis doutrinais nem colocar a Boa Noticia entre as quatro paredes das igrejas. Temos que traduzir o cristianismo na linguagem e a vida dos seres humanos de hoje.

Já Rahner advertia no fim do Concilio: “Situar a tarefa principal da teologia atual e do futuro no campo da eclesiologia, da mariologia e outros temas semelhantes abordados pelo Concilio Vaticano II seria enganar-se sob o sentido do concilio. A teologia de hoje e de amanha devera converter-se em uma teologia do dialogo com as pessoas que não acreditam. Será preciso, refletir a fundo com uma sinceridade radical sob o que pensamos e queremos dizer ao falar de Deus e de Cristo”.

“No principio era o sentido” interpretava Goethe. Desde o inicio, desde o começo, nada do humano é indiferente a Deus. Por isso, desde o inicio, Deus está com o ser humano. Também por isso, e desde o inicio, está o sentido no ser humano, em essa presença cheia de graça e gozosa do Criador que nos reconhece como filhos e filhas e que nos faz irmãos entre nós.

“Haverá que educar os olhos” dizia T. Chardin para entender a historia de Deus com o ser humano para decifrar as folhas de seu caderno de notas que vão caindo em nossas mãos.

“Haverá que palpar-se a alma” falava Unamuno e recuperar o ouvido para o mistério.

O som de Deus pertence à polifonia da vida. E uma questão de recobrar ressonância, de fazer que a música tenha ressonância em nos.

Nenhuma escola mais apropriada para esta aprendizagem que abrir-se aos outros, de ser tocados pelos outros que reclamam minha responsabilidade. Compaixão e solidariedade são os melhores guias para sintonizar com Deus.

Tocados assim...“de noite iremos, de noite, sem lua, iremos sem lua, que para encontrar a fonte só a sede nos fulgura”. (Rosales) Por Rafael Leria (aluno).

Créditos da figura: http://worshippingchristian.org/images/blog/Jesus_Smiling.png

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