sábado, 25 de fevereiro de 2012

O acontecimento paradoxal cristão e as ciências



A teologia tem um lugar garantido na mesa da bioética. Não só por ser parte das suas origens, mas por oferecer uma linguagem que procura integrar realidades aparentemente contraditórias. Isto último no nosso tempo nem sempre é fácil de ver e ainda mais difícil vivê-lo.
Nós tendemos a cortar em pequenos fragmentos a realidade e o saber. Nessa lógica, as ciências foram cada vez mais específicas. Chegamos a pontos de superespecialização que nos aproximam a uma perda da perspectiva do conjunto da realidade e do ser humano total. Ou vamos até as partículas mais microscópicas de nosso mundo ou no sentido contrário até o mais profundo do universo. Uma das consequências foi esquecer às realidades que não tinham a ver diretamente com as realidades pesquisadas. Daí é fácil passar a justificar um empreendimento científico em si mesmo e por si mesmo, sem levar em conta as consequências para o resto da humanidade.
O cristianismo compreende o mundo e a vida desde uma constante tensão paradoxal. Por isso, vai desde um movimento do mais íntimo do ser humano até o mais íntimo da transcendência. Acredita num Deus que é “unidade e diversidade sem fusão nem confusão, imanente e transcendente, divino e humano, histórico e eterno”[1]. Ainda mais, esse movimento que vá e vem do mais histórico ao mais transcendental, de crer que se tem todo nas mãos e ao mesmo tempo olhar que nada se tem, é a dinâmica que dá vida ao cristianismo. Na experiência cristã se conciliam os polos que num primer momento podem parecer paradoxais, mas que são possíveis simultaneamente.
A experiência cristã pode partilhar seu modo de se situar no mundo. Pode partilhar seu modo de levar essa tensão dinâmica e como a faz fonte de sentido. Por exemplo, para ajudar às ciências a ter em conta os diferentes níveis de realidade e as diferentes interações entre eles, às vezes, com aparência paradoxal. Mas para isto, também é necessário que mostre uma maior confiança com as ciências e a tecnologias. Aqui a bioética mostra-se novamente como o lugar ideal para esse encontro acontecer. Mario E. Cornejo Mena (aluno).


[1] Junges, José Roque. Bioética. Hermenéutica e casuística. Loyola: São Paulo, 2006, p. 59.

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