A teologia tem um
lugar garantido na mesa da bioética. Não só por ser parte das suas origens, mas
por oferecer uma linguagem que procura integrar realidades aparentemente
contraditórias. Isto último no nosso tempo nem sempre é fácil de ver e ainda
mais difícil vivê-lo.
Nós tendemos a cortar
em pequenos fragmentos a realidade e o saber. Nessa lógica, as ciências foram
cada vez mais específicas. Chegamos a pontos de superespecialização que nos
aproximam a uma perda da perspectiva do conjunto da realidade e do ser humano
total. Ou vamos até as partículas mais microscópicas de nosso mundo ou no
sentido contrário até o mais profundo do universo. Uma das consequências foi
esquecer às realidades que não tinham a ver diretamente com as realidades
pesquisadas. Daí é fácil passar a justificar um empreendimento científico em si
mesmo e por si mesmo, sem levar em conta as consequências para o resto da
humanidade.
O cristianismo
compreende o mundo e a vida desde uma constante tensão paradoxal. Por isso, vai desde um movimento do mais íntimo do ser humano até o mais íntimo da
transcendência. Acredita num Deus que é “unidade e diversidade sem fusão nem
confusão, imanente e transcendente, divino e humano, histórico e eterno”[1]. Ainda
mais, esse movimento que vá e vem do mais histórico ao mais transcendental, de
crer que se tem todo nas mãos e ao mesmo tempo olhar que nada se tem, é a
dinâmica que dá vida ao cristianismo. Na experiência cristã se conciliam os
polos que num primer momento podem parecer paradoxais, mas que são possíveis
simultaneamente.
A experiência cristã
pode partilhar seu modo de se situar no mundo. Pode partilhar seu modo de levar
essa tensão dinâmica e como a faz fonte de sentido. Por exemplo, para ajudar às
ciências a ter em conta os diferentes níveis de realidade e as diferentes
interações entre eles, às vezes, com aparência paradoxal. Mas para isto, também
é necessário que mostre uma maior confiança com as ciências e a tecnologias.
Aqui a bioética mostra-se novamente como o lugar ideal para esse encontro
acontecer. Mario E. Cornejo Mena (aluno).
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