domingo, 26 de fevereiro de 2012

Dra Zilda Arns, uma mulher ética.



Zilda Arns Neumann nasceu a 25 de Agosto de 1934, na cidade de Forquilhinha, Paraná, Brasil. De família abastada poderia, como a maioria das jovens de ontem e de hoje, ter seguido sua vida sem maiores “distrações” com as causas sociais. Porém, quis a sua consciência e convicções evangélicas que sua vida, desde cedo, se enveredasse pela pergunta motriz: o que eu posso fazer de bom para o outro, especialmente para quem mais necessita?
Para tanto, empenhou-se, desde os tempos da graduação em medicina, especializando-se em pediatria e sanitarismo. A realidade da criança pobre brasileira era lastimável: a mortalidade infantil ceifava inúmeras vidas ainda nos primeiros anos de sua existência, vitimadas pela desnutrição e pela violência. Consciente do poder da educação, da instrução e da conscientização, Zilda Arns não teve dúvidas: era preciso formar e informar as pessoas, sobretudo as mães, as gestantes e as famílias. Deixando-se persuadir pelo Evangelho (cf. Jo 6,1-15), decidiu-se pelo trabalho a partir das bases, isto é, a partir das pequenas comunidades, das redes familiares, entre amigos, por cada homem e mulher de bem.
Sua atuação logo se estendeu a níveis Estaduais: coordenou campanhas de vacinação, além de dirigir o departamento de assistência a maternidade em seu Estado, Paraná, com atuação nas áreas de planejamento familiar, prevenção de câncer ginecológico, saúde escolar e aleitamento infantil. Em 1983, a pedido da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), funda, em conjunto com religiosos, e grande número de voluntariado, a Pastoral da Criança, com atuação, mais tarde, a níveis nacionais e com reconhecimento internacional. Através da pesagem, da visita familiar e das reuniões mensais, combateu-se, sobretudo, a mortalidade infantil a partir de medidas simples, a chamada multimistura.
Em 12 de Janeiro de 2010, em visita ao Haiti para promoção da Pastoral da Criança, Zilda Arns, juntamente com um grande número de haitianos, foi vitimada pelo terremoto que assolou aquele país. Uma mulher que, durante toda a sua vida colocou-se generosa diante do outro, seu semelhante, em quem via o seu Senhor necessitado, soube solidarizar-se com os pequeninos deste mundo em tudo, inclusive em sua última e cruenta dor: a morte. Apesar de seu violento desaparecimento de entre nós nos ter deixado um profundo e “incompreensível nó no peito”, soubemos reconhecer que “não é hora de perdermos a esperança” (d. Paulo Evaristo Arns, irmão).
Zilda Arns morreu como viveu: tomada pela causa do homem, especialmente por aquele com o qual poucos ou ninguém se importava. Sua vida norteou-se pelas convicções mais profundas do seu coração, a saber, a exigência que sua fé lhe exigia: “estive com fome e me deste de comer; com sede e me deste de beber; enfermo e foste me visitar; nu e me vestiste” (cf. Mt 25, 34-39).
Dra Zilda Arns, “nossa irmã”, de quem nos sentíamos tão próximos por um lado, mas por outros ângulos, distantes demais, ensinou-nos o valor da ação concreta, da vida doada, entregue, feita doação. Ensinou-nos, por isso, que maior é quem dá a vida pelo seu amigo. Este, na verdade, vida ao amigo; ao irmão.
Se hoje nos criticam, com razão, pelo excesso de discursos e pouca ação concreta, Zilda Arns, mulher de silêncio e sorriso fáceis, deixou-nos o seu último discurso, que o terremoto não lhe deixou proferir. Eis um fragmento dele:
“(...) Sabemos que a força propulsora da transformação social está na prática do maior de todos os mandamentos da Lei de Deus: o Amor, expressado na solidariedade fraterna, capaz de mover montanhas."Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos" significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar os objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade.
Cremos que esta transformação social exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças. Este desenvolvimento começa quando a criança se encontra ainda no ventre sagrado da sua mãe. As crianças, quando estão bem cuidadas, são sementes de paz e esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceitos que as crianças.
Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los”. (Dra. Zilda Arns Neumann)

Claudemar Silva

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