Zilda Arns Neumann nasceu a 25 de Agosto de 1934, na cidade de
Forquilhinha, Paraná, Brasil. De família abastada poderia, como a maioria das
jovens de ontem e de hoje, ter seguido sua vida sem maiores “distrações” com as
causas sociais. Porém, quis a sua consciência e convicções evangélicas que sua
vida, desde cedo, se enveredasse pela pergunta motriz: o que eu posso fazer de
bom para o outro, especialmente para quem mais necessita?
Para tanto, empenhou-se, desde os tempos da graduação em medicina,
especializando-se em pediatria e sanitarismo. A realidade da criança pobre
brasileira era lastimável: a mortalidade infantil ceifava inúmeras vidas ainda nos
primeiros anos de sua existência, vitimadas pela desnutrição e pela violência.
Consciente do poder da educação, da instrução e da conscientização, Zilda Arns
não teve dúvidas: era preciso formar e informar as pessoas, sobretudo as mães,
as gestantes e as famílias. Deixando-se persuadir pelo Evangelho (cf. Jo 6,1-15),
decidiu-se pelo trabalho a partir das bases, isto é, a partir das pequenas comunidades,
das redes familiares, entre amigos, por cada homem e mulher de bem.
Sua atuação logo se estendeu a níveis Estaduais: coordenou campanhas
de vacinação, além de dirigir o departamento de assistência a maternidade em
seu Estado, Paraná, com atuação nas áreas de planejamento familiar, prevenção
de câncer ginecológico, saúde escolar e aleitamento infantil. Em 1983, a pedido
da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), funda, em conjunto com
religiosos, e grande número de voluntariado, a Pastoral da Criança, com
atuação, mais tarde, a níveis nacionais e com reconhecimento internacional.
Através da pesagem, da visita familiar e das reuniões mensais, combateu-se,
sobretudo, a mortalidade infantil a partir de medidas simples, a chamada
multimistura.
Em 12 de Janeiro de 2010, em visita ao Haiti para promoção da
Pastoral da Criança, Zilda Arns, juntamente com um grande número de haitianos,
foi vitimada pelo terremoto que assolou aquele país. Uma mulher que, durante
toda a sua vida colocou-se generosa diante do outro, seu semelhante, em quem
via o seu Senhor necessitado, soube solidarizar-se com os pequeninos deste
mundo em tudo, inclusive em sua última e cruenta dor: a morte. Apesar de seu
violento desaparecimento de entre nós nos ter deixado um profundo e
“incompreensível nó no peito”, soubemos reconhecer que “não é hora de perdermos
a esperança” (d. Paulo Evaristo Arns, irmão).
Zilda Arns morreu como viveu: tomada pela causa do homem,
especialmente por aquele com o qual poucos ou ninguém se importava. Sua vida
norteou-se pelas convicções mais profundas do seu coração, a saber, a exigência
que sua fé lhe exigia: “estive com fome e me deste de comer; com sede e me
deste de beber; enfermo e foste me visitar; nu e me vestiste” (cf. Mt 25, 34-39).
Dra Zilda Arns, “nossa irmã”, de quem nos sentíamos tão próximos por
um lado, mas por outros ângulos, distantes demais, ensinou-nos o valor da ação
concreta, da vida doada, entregue, feita doação. Ensinou-nos, por isso, que
maior é quem dá a vida pelo seu amigo. Este, na verdade, dá vida ao amigo; ao irmão.
Se hoje nos criticam, com razão, pelo excesso de discursos e pouca
ação concreta, Zilda Arns, mulher de silêncio e sorriso fáceis, deixou-nos o
seu último discurso, que o terremoto não lhe deixou proferir. Eis um fragmento
dele:
“(...) Sabemos que a
força propulsora da transformação social está na prática do maior de todos os
mandamentos da Lei de Deus: o Amor, expressado na solidariedade fraterna, capaz
de mover montanhas."Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a
nós mesmos" significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça;
significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da
vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para
alcançar os objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a
própria identidade.
Cremos que esta transformação social
exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das
crianças. Este desenvolvimento começa quando a criança se encontra ainda no
ventre sagrado da sua mãe. As crianças, quando estão bem cuidadas, são sementes
de paz e esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais
solidário e sem preconceitos que as crianças.
Como os pássaros, que cuidam de seus
filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de
predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos
filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los”.
(Dra. Zilda Arns Neumann)
Claudemar Silva
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