quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A bioética e os documentos do magistério da Igreja




            O magistério da Igreja não se exime das questões fundamentais acerca da vida e do desenvolvimento humano. A Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo de Hoje do Concílio Vaticano II condena como infame “tudo quanto se opõe à vida, como seja toda espécie homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violar as próprias consciências; tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também às condições degradantes de trabalho, em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis”[1]. Todas estas coisas e outras semelhantes, segundo o Documento, são infamantes, corrompem a civilização humana e ofendem gravemente a honra devida ao Criador. Pois, como dizia Santo Irineu, “a glória de Deus é o homem vivo; a vida do homem é a visão de Deus”.   
            Na mesma linha de reflexão, o Papa João Paulo II na encíclica Evangelho da Vida, constata que as ameaças à vida tem aumentado em nossos dias, devido o avanço da mentalidades individualista e utilitarista, bem como, com o desenvolvimento da ciência e da técnica com as quais novas violações à vida passaram não só a ser praticadas como também descriminalizadas ou até amparadas pelo Estado. Neste sentido, conclui o papa: “o resultado de tudo isso é dramático: se é muitíssimo grave e preocupante o fenômeno da eliminação de tantas vidas humanas nascentes ou encaminhadas para o seu ocaso, não o é menos o fato de a própria consciência, ofuscada por tão vastos condicionamentos, lhe custar cada vez mais a perceber a distinção entre o bem e o mal, precisamente naquilo que toca o fundamental valor da vida humana”.[2]
            Nesta mesma Encíclica (Evangelium Vitae)¸ encontra-se de forma explícita a visão positiva do magistério pontifício acerca da Bioética, uma vez que esta favoreceu para o desenvolvimento de uma reflexão ética e para o diálogo sobre a qualidade de vida. “Particularmente significativo é o despertar da reflexão ética acerca da vida: a aparição e o desenvolvimento cada vez maior da bioética favoreceu a reflexão e o diálogo – entre crentes e não crentes, como também entre crentes de diferentes religiões – sobre problemas éticos, mesmo fundamentais, que dizem respeito à vida do homem”.[3]
            O papa percebe que a bioética poderá contribuir para despertar e mobilizar a humanidade a favor da cultura da vida. Diz o papa: “um contributo específico há de vir das Universidades, em particular católicas, e Centros, Institutos e Comissões de Bioética”[4]. Nota-se que a bioética tem uma árdua missão, pois “urge uma mobilização das consciências e um esforço ético comum, para se realizar uma grande estratégia a favor da vida. Todos juntos devemos construir uma nova cultura da vida (...). Este novo estilo de vida implica também a passagem da indiferença ao interesse pelo outro, a passagem da recusa ao seu acolhimento: os outros não são concorrentes de quem temos de nos defender, mas irmãos e irmãs de quem devemos ser solidários; devem ser amados por si mesmos; enriquecem-nos pela sua própria presença” [5]
A construção da cultura da vida, como afirma o papa, é responsabilidade de todos nós. Por isso a bioética torna-se um espaço para o ecumenismo, já que todos os cristãos somos chamados a viver e anunciar o Evangelho da Vida, bem como, abre uma janela para o diálogo inter-religioso, uma vez que em todas as religiões há a preocupação em defender a vida. Por Rodrigo Ferreira da Costa (aluno).



[1] Gaudium et Spes, 27
[2] Evangelium Vitae, 4.
[3] Ibid. 27.
[4] Ibid. 98.
[5] Ibid. 95 e 98.

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