quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Rumo a uma hermenêutica latino-americana da bioética.


Está na hora de criar uma hermenêutica propriamente latino-americana da bioética, que dê conta dos problemas latino-americanos e de um jeito latino-americano, em vez de ficar na mímica de debates no Norte sobre problemas alheios à nossa realidade.

Uma hermenêutica latino-americana da bioética deveria ter, pelo menos, as seguintes quatro características.

1.      Opção pelos pobres.  A bioética latino-americana deve se ocupar pelos problemas das maiorias, das pessoas mais vulneráveis e nas fronteiras da exclusão.  Esses problemas vão ser diferentes aos problemas que normalmente hoje se discutem nos debates sobre a bioética.
2.      Hermenêutica da suspeita.  A desigualdade, a corrupção, a história de violência e as outras injustiças da nossa região obrigam-nos a ficar de olho.  Em qualquer debate, uma pergunta essencial é saber quais interesses (econômicos, políticos, ideológicos) estão por trás de qualquer posição.
3.      Ampliar a metáfora da “túnica sem costura”, usada nos Estados Unidos para se referir à vida toda de um indivíduo desde o seio materno até a morte natural.  É preciso superar o individualismo descontextualizado desse enfoque, ao mesmo tempo em que dá para aproveitar a sua dimensão de integralidade.  A Vida toda, no sentido da interconexão global entre todos os indivíduos humanos, outras espécies e o meio-ambiente, também é uma túnica sem costura e merece ser entendida e defendida nessa complexidade.
4.      Pluralidade.  Levar em conta as diferenças com raízes na encarnação sexuada e de gênero, nas culturas, nos modos de ver o mundo e a vida, dando atenção especial e respeitosa às vozes que são muitas vezes silenciadas (dos povos indígenas e negros, das comunidades faveladas e camponesas, das mulheres e homossexuais, etc.).  Do mesmo jeito que a nossa região é descrita como “polirrítmica”, porque nela coexistem a pré-modernidade, a modernidade e a pós-modernidade ao mesmo tempo e às vezes até nas mesmas pessoas, podemos assumir a nossa pluralidade como valor, na linha da feminista Luce Irigaray e também dos nossos sincretismos religiosos.  Quer dizer, nem sempre é preciso escolher; às vezes o certo está em reconhecer que têm varias formas legítimas de ver a mesma coisa.  Por Emilio (aluno)

Crédito da foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWrNpmsHfh1vhmlBPu2brkhML8u8HJyq0rO1mBy8G2ddLOXsqWD_9FgJid1HTu1P-C6WnQ_OfL_erDicFYy_BcHz0zEHmgIz6AEdybhBYBSXSGSG4gx1e81k8z-o5PV4M7STNC61wEzlRy/s1600/memorial+da+america+latina+sao+paulo.jpg

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