Está na hora de criar uma hermenêutica propriamente latino-americana
da bioética, que dê
conta dos problemas latino-americanos e de um jeito latino-americano, em vez de
ficar na mímica de debates no Norte sobre problemas alheios à nossa realidade.
Uma hermenêutica latino-americana
da bioética deveria ter, pelo menos, as seguintes quatro características.
1.
Opção pelos pobres. A bioética latino-americana deve se ocupar pelos
problemas das maiorias, das pessoas mais vulneráveis e nas fronteiras da exclusão. Esses problemas vão ser diferentes aos
problemas que normalmente hoje se discutem nos debates sobre a bioética.
2.
Hermenêutica da suspeita. A desigualdade, a corrupção, a história de violência e as
outras injustiças da nossa região obrigam-nos a ficar de olho. Em qualquer debate, uma pergunta essencial é saber quais interesses
(econômicos, políticos, ideológicos) estão por trás de qualquer posição.
3.
Ampliar a metáfora da “túnica sem costura”,
usada nos Estados Unidos para se referir à vida toda de um indivíduo desde o seio materno
até a morte
natural. É preciso superar o individualismo descontextualizado
desse enfoque, ao mesmo tempo em que dá
para aproveitar a sua dimensão de integralidade. A Vida toda, no sentido da interconexão
global entre todos os indivíduos humanos, outras espécies e o meio-ambiente,
também é uma túnica
sem costura e merece ser entendida e defendida nessa complexidade.
4.
Pluralidade.
Levar em conta as diferenças com raízes na encarnação sexuada e de
gênero, nas culturas, nos modos de ver o mundo e a vida, dando atenção especial
e respeitosa às
vozes que são muitas vezes silenciadas (dos povos indígenas e negros, das
comunidades faveladas e camponesas, das mulheres e homossexuais, etc.). Do mesmo jeito que a nossa região é descrita como “polirrítmica”, porque nela
coexistem a pré-modernidade, a modernidade e a pós-modernidade ao mesmo tempo e às vezes até nas mesmas pessoas, podemos
assumir a nossa pluralidade como valor, na linha da feminista Luce Irigaray e
também dos nossos sincretismos religiosos.
Quer dizer, nem sempre é
preciso escolher; às
vezes o certo está
em reconhecer que têm
varias formas legítimas
de ver a mesma coisa. Por Emilio (aluno)
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