A bioética nasceu de uma evidente
necessidade de se colocar perguntas fundamentais às práticas da ciência e à tecnologia. Diante
do avanço da tecnociência que aumentou o nosso poder de cura, mas também a
nossa capacidade de matar, a bioética surge como crítica, apresentando
preocupações éticas fundamentais, principalmente no que tange às biomédicas.
Nisso observa-se que a bioética não está separada da política e do
desenvolvimento econômico. Ao contrário, em meio às situações complexas da
humanidade, com graves desequilíbrios morais e sociais exige-se normas
concretas que possam servir de crítica e discernimento. Aqui se dá o berço da
bioética.
O desenvolvimento técnico-científico
trouxe benefícios extraordinários para a humanidade. Há, porém, certos malefícios que
precisam ser questionados e redirecionados. O papel da bioética, então, é
bastante evidente, a saber, tentar sanar esta ambivalência da tecnociência. Este
habitat seguro da bioética,
entretanto, pode levá-la a se fechar na defensiva, tornando-se uma espécie de superego da tecnociência e não cumprindo
a sua tarefa de ser ponte para o futuro
da humanidade. Como argumenta Junges, “a bioética não pode ser reduzida a
uma espécie de ‘capelão’ da corte real da ciência e do mercado, apenas
moderando desmandos e efeitos adversos, como fazia o capelão em relação ao rei.
Ela precisa formular perguntas fundamentais e ser sadiamente crítica. Esse é o
papel da bioética hermenêutica”.[1]
Neste sentido, percebe-se a importância da
bioética em não se prender na casuística. “Embora uma sadia casuística seja
importante e necessária, a bioética não pode esgotar-se na solução de casos”[2].
Necessário se faz, portanto, o esforço hermenêutico para ir para questões de
fundo se não se quiser cair num puro pragmatismo acomodado, conclui Junges.
O próprio caráter da bioética de ser “campo
de encontro para disciplinas, discursos e organizações envolvidas em questões
éticas legais e sociais” (Onora O’neall), impõe que ela seja hermenêutica e
crítica. Pois se os comitês institucionais pautam-se, no dia-a-dia, por uma
bioética casuística para tentarem responder a dilemas éticos concretos e
urgentes, o debate de temas fundamentais com outras áreas do saber é também de
suma importância, para que novas proposições possam ser discutidas e avaliadas.
Este é o espaço da hermenêutica. Ademais, a bioética “precisa desenvolver uma
hermenêutica da suspeita que interprete os pressupostos éticos, antropológicos
e socioculturais que determinam a maneira como realidades relacionadas com a
vida e a saúde são compreendidas e tratadas na cultura e na sociedade atual”[3].
Assim sendo, a bioética encontrará a sua
cidadania no “fórum” de debate de temas transversais como, a questão da
destruição ambiental e a vida no Planeta, as novas descobertas científicas e
tecnológicas, as ideologias que estão por trás de muitos discursos
progressistas, enfim, ela poderá atuar nos problemas concretos da ciência,
ponderando e apontando caminhos, bem como, contribuir para uma reflexão mais
abrangente de cunho político social. Por Rodrigo Ferreira da Costa (aluno)
Para continuar com os termos psicológicos, brincando: também penso que a bioética tem por pai e mãe, respectivamente, a ciência e a teologia. Para realizar sadiamente a sua "construção edipiana", a bioética compete com a mãe para ficar com o pai. Descobrindo não poder tanto, reconcilia-se com a mãe e a aceita. A mãe pode funcionar como a castradora, então. Como a filha, repete a mãe (rs), a bioética pode se tornar também castradora. Mas a filha, para construir sua identidade, precisa superar o que ela tem de idêntico com a mãe, em busca do diferente, que é a imagem perdida do pai. Mas terá de superar o pai, se não quiser ficar presa a frustrações ou projeções ilusórias. Bobagem? Vejam se não tem tudo a ver...
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