quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Chegou a tempo a bioética?


Hegel disse que a coruja de Minerva chega sempre ao pôr do sol, um pouco tarde. A mesma coisa diríamos sobre a bioética porque a vida e a tecnologia avançam com muita maior rapidez que a reflexão ética, mas eu acho que desde o inicio os cientistas perceberam que era necessário pensar sob o que tínhamos nas mãos.
Historicamente, a iniciativa de uma reflexão ética nasceu mais o menos ao mesmo tempo (1971) em duas universidades de EUA partindo dos próprios cientistas: em Wisconsin  com  Van Rensselaer Potter, cientifico bioquímico, e em  Georgetown com  André Hellegers, medico obstetra; eles poderiam ser considerados oa fundadores da bioética. Potter concebeu a bioética como a combinação dos conhecimentos biológicos com os conhecimentos dos sistemas de valores humanos.
A bioética seria ponte para o futuro e uniria as ciências e as humanidades. Hellegers centrou a bioética em questões biomédicas mais próximas à vida cotidiana e às preocupações da gente, adotando a teoria e o método da filosofia e da teologia, tornando a bioética um ramo da ética ordinária aplicado ao mundo da biomedicina. Contudo os dois pontos de vista coincidem no enfoque global da nova disciplina.
Poderíamos definir a bioética segundo a Enciclopedia W.T. Reicho como o estudo sistemático das dimensões morais -incluindo a visão moral, as decisões, as condutas políticas- das ciências da vida e do cuidado da saúde utilizando uma variedade de metodologias éticas em contexto interdisciplinar.[1]
Esta definição poderia ser questionada porque parece limitar-se somente ao âmbito biomédico. Mas convém aclarar que sua compreensão favorece a pessoa toda. Por isso não se limita somente ao sentido biológico mas também a vida como biografia, como projeto de liberdade que corresponde a existência exclusivamente pessoal. Por outro lado, a bioética aborda os problemas tão complexos que nenhum especialista possui toda a formação e informação necessárias para compreender todos seus ângulos, por isso que exige uma relação multidisciplinar.    Por: Rafael Leria Ortega (aluno)


Créditos da imagem: http://www.sacredcenters.com/files/earth_holding_sml.jpg
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[1] Ferrer (2003, p. 77). 
Baseado em: JUNGES, J. R. Bioética: Perspectivas e Desafios. São Leopoldo: Unisinos, 1999. 322p.

Um comentário:

  1. Gostei muito do seu texto....
    Quando falamos em “diálogo entre A e B” logo pensamos nos limites existentes ou na completa dissociação que impõe a necessidade dele. Contudo, nem sempre é assim e, neste caso, parece-me evidente que não seja. Concordo contigo que a bioética pode ser uma das pontes que une as ciências com a humanidade e, neste bojo, incluo a teologia. Porque a relação entre teológico e a reflexão bioética é uma relação implicativa, porque a exatidão da primeira compromete a segunda e vice versa. Mesmo tematizando a vida humana espiritual e biologicamente cada um dos saberes desenvolve o seu discurso a partir de determinadas convicções que os aproximam e os afasta. Contudo, a bioética é uma realidade irrenunciável hoje por causa dos avanços das ciências médicas e a biotecnologia e, por isso mesmo, constitui ganho inquestionável “chegando a tempo ou não” como fórum amplo, interdisciplinar, plural, em vista da tomada de decisão e em respeito à dignidade humana.
    Obrigado, irmão.

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