terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

CRISTÃOS DE VALORES E DE TÉCNICAS



Nascemos sem nada, nus, dependentes. Mais frágeis e suscetíveis do que os outros animais necessitamos de casa, de conforto, de cuidados. Dotados de razão com o tempo vamos acumulando roupas, eletrônicos, bens materiais e simbólicos. Aos poucos nos tornamos permeados de utensílios e moldados por eles, de modo que os mesmos se tornam extensão de nosso corpo. Há quem fale em “cibridismo”, a junção entre “on” e “off”. Na atualidade não é mais tão fácil definir o que é uma coisa e outra, tudo se mistura. Mas isso não é algo tão novo. Trata-se de um dado antropológico. Como ensinam os estudos culturais todas as culturas estão envolvidas umas com as outras, nenhuma é isolada e pura, todas são hibridas, heterogêneas, extraordinariamente diferenciadas e não monolíticas.[1] Não é somente na ficção que o homem é máquina.
Quem hoje em dia já não esqueceu o celular ou outro eletrônico “da hora” ao sair de casa e sente-se como se uma parte de si estivesse faltando? Isso apenas como um exemplo para dizer o quanto nos tornamos dependentes da técnica. De fato, a técnica em si deveria nos proporcionar qualidade de vida e nos tornar sempre mais humanos. Ocorre que, se nem os alimentos do mundo são partilhados imagina as técnicas de ponta... Alimento rima com conhecimento, o segundo é poder! Em plena era digital ainda temos pessoas que nem sequer dominam os códigos gráficos. É o disparate e as ambivalências do mercado, que põe o lucro em primeiro lugar em detrimento dos valores humanos e naturais.
Daí o desafio para o cristão. Antes da dependência dos meios nascemos numa família que nos ensina e nos lega valores. É-nos transmitida a fé e na escola aprendemos uma série de sistemas para o bom andamento social. Diante disso construímos ferramentas simbólicas, morais, éticas. Isso tem implicações, exige atitude diferenciada!
Assim, o cristão não é alguém que está fora do mundo. Ele está inserido na complexidade dos fatos, na mundaneidade do mundo. O desafio é não se deixar contaminar com o fermento dos Fariseus (Mc 8,14-21). Cabe ao cristão se deixar mover pelo fermento do Reino e direcionar as atitudes para tanto. “Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, façais tudo para a glória de Deus” (1 Cor 10,31). Os meios e as técnicas são bem vindos. O uso responsável deles pode nos tornar mais humanos e o cuidado da natureza mais eficiente e sustentável. Por Antonio Iraildo Alves de Brito (aluno)

Créditos pela figura: http://dce.oca.org/assets/files/resources/Christ_and_the_Children.jpg


[1]SAID, E. Apud EAGLETON, Terry, A idéia de cultura. São Paulo: Unesp, 2005. p.28-29.

Nenhum comentário:

Postar um comentário