Nascemos sem nada, nus, dependentes. Mais frágeis e
suscetíveis do que os outros animais necessitamos de casa, de conforto, de
cuidados. Dotados de razão com o tempo vamos acumulando roupas, eletrônicos,
bens materiais e simbólicos. Aos poucos nos tornamos permeados de utensílios e moldados
por eles, de modo que os mesmos se tornam extensão de nosso corpo. Há quem fale
em “cibridismo”, a junção entre “on” e “off”. Na atualidade não é mais tão fácil
definir o que é uma coisa e outra, tudo se mistura. Mas isso não é algo tão
novo. Trata-se de um dado antropológico. Como ensinam os estudos culturais
todas as culturas estão envolvidas umas com as outras, nenhuma é isolada e
pura, todas são hibridas, heterogêneas, extraordinariamente diferenciadas e não
monolíticas.[1]
Não é somente na ficção que o homem é máquina.
Quem hoje em dia já não esqueceu o celular ou outro
eletrônico “da hora” ao sair de casa e sente-se como se uma parte de si
estivesse faltando? Isso apenas como um exemplo para dizer o quanto nos
tornamos dependentes da técnica. De fato, a técnica em si deveria nos
proporcionar qualidade de vida e nos tornar sempre mais humanos. Ocorre que, se
nem os alimentos do mundo são partilhados imagina as técnicas de ponta...
Alimento rima com conhecimento, o segundo é poder! Em plena era digital ainda
temos pessoas que nem sequer dominam os códigos gráficos. É o disparate e as
ambivalências do mercado, que põe o lucro em primeiro lugar em detrimento dos
valores humanos e naturais.
Daí o desafio para o cristão. Antes da dependência dos
meios nascemos numa família que nos ensina e nos lega valores. É-nos
transmitida a fé e na escola aprendemos uma série de sistemas para o bom
andamento social. Diante disso construímos ferramentas simbólicas, morais,
éticas. Isso tem implicações, exige atitude diferenciada!
Assim, o cristão não é alguém que está fora do mundo.
Ele está inserido na complexidade dos fatos, na mundaneidade do mundo. O desafio é não se deixar contaminar com o
fermento dos Fariseus (Mc 8,14-21). Cabe ao cristão se deixar mover pelo fermento
do Reino e direcionar as atitudes para tanto. “Quer comais, quer bebais, ou façais
qualquer outra coisa, façais tudo para a glória de Deus” (1 Cor 10,31). Os
meios e as técnicas são bem vindos. O uso responsável deles pode nos tornar
mais humanos e o cuidado da natureza mais eficiente e sustentável. Por Antonio Iraildo Alves de Brito (aluno)
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