sábado, 11 de fevereiro de 2012

DISCREPÂNCIA


Da janela vejo a lagoa
Bela e sem água boa
Lume frio, afinado
Progresso desenfreado

Transporto-me às margens
Os pássaros cantam mensagens
E o silêncio sepulcral
Das mansões do capital
Camufla o odor sem nome
E fecha os olhos pra fome
Do homem que está na beira
Sem eira lançando o anzol
usufrui o mesmo sol

Sobre as águas uma garça
Esvoaça alvamente
Logo ao lado um urubu
Em seu vôo rasante
Varejando algo podre

Então minha mente divaga
Feito cantor de repente
E as rimas me chegam mansas
Tal cabelo liso em pente:

Era uma vez um rio livre
Seguindo seu próprio rumo
O homem fez uma parede
Calculou, mediu seu prumo
Modificou o ambiente
Desejo, afã de consumo

O prefeito desejava
O norte da cidade desenvolver
Queria um cartão postal
E o seu nome engrandecer
Contratou um arquiteto
Para o projeto fazer


No entorno do novo lago
Tudo se transformaria
No conjunto arquitetônico
Uma casa de baile teria
Igreja, clube, museu
Hotel, cassino e harmonia

Pode ser que além de tudo
Houvesse fome de beleza
Então o arquiteto fez o projeto
E deixou tudo uma fineza
Lugar bonito assim
Não havia brecha pra pobreza

Pois pobre, sabe como é,
Perde até o que não tem
Se houve algum ali
“Vai embora zé-Ninguém!
Procura a sua ralé
Deixa em paz quem é de bem

Ficou tudo tão bonito
Referência nacional
Aquela região pacata
Nunca mais seria igual
E morar naquele bairro
quem tinha capital

Mas ocorreu um problema
Que não constou nos projetos
Onde desembocariam
Da população os dejetos?
Se um dia o lago foi limpo
Hoje está cheio de insetos!

Além disso, outros fatores:
Falta de planejamento
A grana das construtoras
E novos povoamentos
Outrora o rio era alegre
Agora o lago, lamento...

Por isso, caro leitor
Tire suas conclusões
Sou a favor do progresso
E não alimento ilusões
Mas se o começo é uma farsa
O fim promete tensões... 

Por Antonio Iraildo Alves de Brito

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