sábado, 11 de fevereiro de 2012

Fronteiras de Biotecnologia, natureza humana, e ética


Numa palestra chamada « Materialismo e teologia » em 2007, o Slavoj Zizek fez um argumento muito provocativo para pensar a relação entre a engenharia genética e a natureza humana.  Zizek diz que se hoje já é possível criar (ou pelo menos sonhar em criar) uma “natureza 2.0” incluindo o ser humano, mudando-se à vontade alguns aspectos que consideramos importantes da personalidade, inteligência e perfil físico de um sujeito, a partir mesmo de sua concepção, então isso coloca em questão o jeito que entendemos o que é “dado“ pela natureza. 

Nas palavras do Zizek, se é possível esse “2.0” pela engenharia, isso significa que a pessoa que a natureza produziria sem essa intervenção não seria mais do que um “1.0”.  Aquilo que pode ser mudado, na visão do Zizek, não teria nada de natureza essencial. 

O imaginário que se sente ameaçado por estas provocações tem a ver com uma compreensão ingênua sobre a natureza humana.  Às vezes pensamos que se nascemos do jeito que para nós era tradicional (“natural”), somos do jeito que somos porque foi desse jeito que o próprio Deus nos criou.  Mas somos cegos às muitas intervenções – mesmo tecno-científicas, embora mais primitivas – que condicionaram os nossos “acidentes”.  Esse condicionamento é inevitavel, porque a mãe gestante não pode deixar de comer, por exemplo, e dependendo de quais alimentos ela come, a criança vai ser afetada de formas diferentes; uma mãe consciente disso (que participe na Pastoral da Criança, por exemplo) inclusive vai tomar vitaminas para garantir a saúde do seu nenê.  Qual a diferença, no fundo, entre essa “intervenção” e outras intervenções, também químicas ou então que mexam com outras partes da “equação”, mais tecnologicamente sofisticadas?

Não precisamos ter medo; a “tecnocientofobia” não adianta, porque, de fato, nunca existiu um estado “natural”, sem tecnologia – muito pelo contrário, o ser humano é técnico, até por natureza.  A questão, então, é desenvolver a sabedoria ética para usar a nossa capacidade responsavelmente.  Hoje, temos muito mais poder tecnológico do que nunca antes.  Por isso, urge um aprofundamento de reflexão ética para acompanhar o ritmo do nosso progresso científico. Por Emílio (aluno)


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