Numa palestra chamada « Materialismo e teologia » em 2007, o
Slavoj Zizek fez um argumento muito provocativo para pensar a relação entre a
engenharia genética e a natureza humana. Zizek
diz que se hoje já é possível criar (ou pelo menos sonhar em criar) uma “natureza
2.0” incluindo o ser humano, mudando-se à vontade alguns aspectos que
consideramos importantes da personalidade, inteligência e perfil físico de um
sujeito, a partir mesmo de sua concepção, então isso coloca em questão o jeito que entendemos o que é “dado“ pela
natureza.
Nas palavras do Zizek, se é possível esse “2.0” pela engenharia, isso
significa que a pessoa que a natureza produziria sem essa intervenção não seria mais do
que um “1.0”. Aquilo que pode ser
mudado, na visão do Zizek, não teria nada de natureza essencial.
O imaginário que se sente ameaçado por estas provocações tem a ver com uma compreensão ingênua sobre a
natureza humana. Às vezes
pensamos que se nascemos do jeito que para nós era tradicional (“natural”), somos
do jeito que somos porque foi desse jeito que o próprio Deus nos criou. Mas somos cegos às muitas intervenções – mesmo tecno-científicas, embora
mais primitivas – que condicionaram os nossos “acidentes”. Esse condicionamento é inevitavel, porque a mãe gestante não pode deixar
de comer, por exemplo, e dependendo de quais alimentos ela come, a criança vai ser
afetada de formas diferentes; uma mãe consciente disso (que participe na Pastoral
da Criança, por exemplo) inclusive vai tomar vitaminas para garantir a saúde do seu nenê. Qual a diferença, no fundo, entre essa “intervenção” e outras
intervenções, também químicas ou então que mexam com outras partes da “equação”, mais tecnologicamente
sofisticadas?
Não precisamos ter medo; a “tecnocientofobia” não adianta, porque, de fato, nunca
existiu um estado “natural”, sem tecnologia – muito pelo contrário, o ser humano
é técnico, até por natureza. A questão, então, é desenvolver a
sabedoria ética para usar a nossa capacidade responsavelmente. Hoje, temos muito mais poder tecnológico do que
nunca antes. Por isso, urge um
aprofundamento de reflexão ética para acompanhar o ritmo do nosso progresso
científico. Por Emílio (aluno)
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