quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Bioética: Ciência e Teologia - Parte I


O trinômio: experiência, linguagem e sentido


Segundo Gadamer o conceito de experiência “é um dos menos esclarecidos de todos”[1] . E de fato, porque se trata de um de termo muito amplo. Há as experiências elementares, que geralmente expressamos em conceitos e ideias. Há as inconscientes, reprimidas por vezes e que fornecem matéria para a psicologia. Sem falar também nas experiências marcantes, que chamamos de experiência de vida. E as sociais ou coletivas. O interessante é notar que não somos apenas nós que fazemos a experiência, mas a experiência nos faz também, nos determina. À medida que recortamos com o nosso olhar as impressões, por exemplo, essas mesmas impressões passam a nos determinar. E a experiência é determinada também pelo risco, bem como nossa capacidade de arriscar é marcada por nossas experiências. Para superar essa tônica psicológica, gostaria de dizer que, assim sendo, a nossa capacidade hermenêutica é determinada pelas experiências que fizemos e que nos fizeram. 

A experiência também é posta na linguagem. Mas as experiências mais substanciais são difíceis de serem ditas. Muitas vezes, a experiência que fazemos da linguagem é parecida com o que Moltmann disse: “a partir das experiências elementares nós chegamos aos conceitos, mas que a partir dos conceitos não chegamos a estas experiências”[2]. Não obstante, é só a mediação limitada da linguagem que temos para expressar sentimentos, conceitos, ideias. A linguagem vai abrindo sentidos, norteamentos e o próprio silêncio lhe oferece o aporte de abrir mais sentidos. Posta em conceitos a linguagem exprime experiências, mas também as espreme em categorias. Mas, na poesia, por exemplo, a palavra quase sempre se encontra interditada por reticências que abrem o campo de sentido. 

Por sentido, é preciso entender direção. Assim, o sentido está sempre direcionado a um horizonte, contando sempre com um contingente de impenetrabilidade que lhe permite continuar sendo horizonte. O homem é capaz de dar sentido às coisas, de atribuir nominações, de conceituar. Ele é capaz de expressar linguisticamente a experiência que faz, deixando aparecer assim o sentido[3]. Mas também não se pode esquecer que há uma parcela de dádiva no sentido que o homem descobre. Não é só homem que atribui sentido como ser pensante, o sentido parece também se dar, determinando o homem. [Continua...]. Por Eduardo Rodrigues (aluno).


Crédito da figura: http://1.bp.blogspot.com/-F_20Qq6RjkA/TymJQPl4IhI/AAAAAAAAAJg/eOlHKUO6FZQ/s1600/God-creation-man.jpg

[1] GADAMER, H.-G. Verdade e método. Petrópolis: Vozes, 1987. p.512
[2] MOLTMANN, J. O Espírito da Vida: uma pneumatologia integral. Petrópolis: Vozes, 2010. p.30
[3] CORD NETO, G. Anotações da aula do dia 16 de fevereiro de 2012. 

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