quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Bioética: Ciência e Teologia - Parte II


Ciência e Teologia


Sobre a palavra determinar gostaria de fazer uma observação. A palavra significa: marcar os limites de fora (de+terminare). Parece metafísico demais dizê-lo. Os de mente mais lógica pensariam: não há nada que nos determina de fora. É claro que há. O outro é o rosto que me determina, a realidade, os dramas sociais. Não é tudo isso, horizonte de sentido? E embora a realidade seja determinada por ações de longo prazo, não foi determinada por tantos que já nascemos numa realidade já dada.

Ciência e Teologia são campos determinados. Ambos procuram colocar experiências em conceitos. Quanto à experiência, o diferencial da ciência é que ela se preocupa com a objetividade, enquanto a teologia leva em consideração também, muito sabiamente, a subjetividade do sujeito implicado. No entanto, a ciência já sabe que não existe uma imparcialidade objetiva pura. A intuição do cientista, por exemplo. De onde ele a arrancou? Não está ela de algum modo ligada à subjetividade do cientista? Se o fenomênico é o campo de atuação do cientista, não me assusta que a ciência esteja cheia de lacunas, que lhes são vitais para a falsificação, para a verificação. E isso, por que o fenomênico é o lugar em que o mistério é “objetivável”. A intuição parece ser o início dessa “objetivação”. Coloco entre aspas, porque toda objetivação carrega consigo o que não pôde ser objetivado, abrindo, assim, espaço para que de uma intuição se chegue a outras e para que a ciência cresça.

Ciência e teologia são campos determinados pela linguagem. Penso que, em termos de linguagem um campo encontra seu “plus” no outro. A ciência encontra seu “plus” na teologia quando não consegue nomear algo e só pode calar e quedar no mistério até que, tendo novos meios de ir mais longe do que foi, acabe caindo, irremediavelmente, no mistério novamente. Já a teologia encontra seu “plus” na ciência quando não cede à tentação de nomear tudo como Deus.

Em se tratando do sentido: a teologia o reconhece como sendo Deus. Já a ciência, mesmo quedando no mistério, não o nomeia de Deus, embora alguns cientistas o façam. Mas insisto em dizer que a ciência não pode renunciar ao fato de que o fundamento para toda objetivação, é o que-ainda-não-foi-objetivado, bem como o fundamento de todo saber é o não-saber. Para que haja um é preciso haver o outro.

O encantamento, a admiração, a intuição existem para teólogos e cientistas. Diante do quê, poderíamos perguntar. Do obscuro? Do inominável? Do nada? Não importam muito os nomes que lhe dermos. Todos eles serão palavras irremediavelmente humanas, pobres e inadequadas para nomear a largueza e a profundidade do que, sempre estaremos apenas em ‘vias de’ conhecer... [continua] Por Eduardo Rodrigues (aluno).




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