A bioética é,
originariamente, interdisciplinar. Não sê-lo seria não ser, deixar de ser. Por
isso, poderíamos comparar a bioética à teia de aranha constituída através do
entrelaçamento de inúmeros fios, que corresponderiam aos saberes humanos[1].
Assim sendo, a consistência da nossa teia de aranha depende substancialmente
dos muitos fios a serem interligados. Considerando isso, a teia-bioética tem se
formado através da imensidão de fios-de-saber-da-humanidade existentes? Ou tem
se reduzido a uma teia-bioética da ciência?
Ao
que parece, no imaginário popular[2]
quando se diz “bioética” nos vem logo a palavra ciência [de laboratório], como
se a bioética fosse um instrumento da mesma para lidar com questões fronteiriças.
Claro que isso é um reducionismo da pior espécie, mas não deixa de ter uma
fagulha de sentido. Vejamos...
Além
dos fios das tecno[lógico]-ciências a fazer parte da teia-bioética, outros fios
são facilmente identificáveis: os fios das religiões. No entanto, a pré-imagem
que temos da teia formada por estas duas classes de fios é de tensão, de nó ao
invés de ser de entrelaçamento[3].
A tendência moderna é, de antemão, atribuir racionalidade à ciência e
irracionalidade à religião. Indo por este caminho, a nossa teia é mais
dogmática e menos hermenêutica. Torna-se uma teia frágil, incapaz de ser aquilo
que deve ser.
Para
que a teia-bioética não se rompa, outros fios mais discretos fazem-se
igualmente presentes. Antropologia, ciências sociais, história etc.. Enfim, os
fios das humanidades. Eles dão um certo equilíbrio à teia quando em momentos de forte tensão. No
entanto, estas humanidades são fortemente cientificizadas, o próprio nome o
diz: ciências humanas. Seguem o padrão científico. Aliás, a própria religião
muitas vezes esquece-se de sua essência e se prende unicamente aos argumentos
científicos, metamorfoseando o “revelado” em “comprovado”. Ou seja, no fundo,
embora cada fio da nossa atual teia-bioética represente diversas áreas do saber
humano, o composto de todos estes fios é quase que exclusivamente [talvez
totalmente] científico. Eis um sério problema...
Fios
de filosofia, fios de literatura, fios de arte, fios da sabedoria popular,
dentre outros, podem solucionar o problema de uma teia-bioética predominantemente
científica. Problema sim! Pois embora a ciência diga muito ao humano e do
humano, ela não o esgota, há outras dimensões tão mais antigas e sempre tão atuais.
Que aliados, o
maior numero de saberes humanos possível possa tecer uma teia-bioética salutar.
Sabendo que, teia de aranha alguma dá conta de tudo capturar, tampouco a nossa
teia-bioética conseguirá abarcar tudo. Por Alfredo Viana Avelar (aluno)
[1]
Metáfora da teia retirada da obra: “Sete palavras necessárias para a educação
do futuro”, de Edgar Morin.
[2]
“Imaginário popular”, leia-se “imaginário do autor”.
[3]
Não quis generalizar a questão, mas apenas evidenciar o notório: ciência e
religião entram constantemente em conflitos quanto a questões de bioética.
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