quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

BIOÉTICA NOSSA DE CADA DIA



O cotidiano está repleto de fatos que podem ser qualificados na perspectiva do descaso à vida. Não é somente nos laboratórios da “senhora ciência” ou nos salões de reuniões dos “senhores do mundo” que se tomam decisões benéficas ou maléficas. Evidentemente não se quer aqui amenizar o poder de ambos (ciência e política), mas chamar à atenção para as pequenas atitudes nossas de cada dia no que tange ao cuidado com a vida, sobretudo com a vida dos mais vulneráveis. A inércia diante de fatos que pedem ação pode ser tão cruel (não na mesma medida) quanto às decisões dos altos escalões da pirâmide do poder.
Um fato de 2009, certamente se teria outros mais recentes, porém, este parece ilustrativo: uma reportagem do Jornal Zero Hora, de 04 de março daquele ano. O periódico expunha na capa uma sequência de fotos: um homem agredido a chutes, pauladas e pedradas, debaixo de uma ponte (Arroio Dilúvio), em Porto Alegre, RS. Enquanto isso, sobre a ponte uma plateia assistia, como se estivesse diante de um “espetáculo midiático”. Pelo que se ficou sabendo, ninguém daquela multidão teve sequer a iniciativa de “ligar para a polícia”. “Parecia que era um filme e queriam ver a morte, um negócio macabro”, disse um soldado da Brigada Militar, que por acaso passava por ali e socorreu a vítima. Ele desceu sozinho e nenhum dos curiosos o ajudou.
Cenas semelhantes se repetem: na página impressa, no telejornal, pela internet e mesmo a “olho nu”. O comentário de alguns no momento do socorro era de que “deixa ele morrer, é vagabundo”. Esse foi o mesmo teor da maioria dos comentários feitos nos dias seguintes ao fato, tanto impresso, como no site do jornal. É como se o “diferente”, o outro, fosse estranho e não merecesse gestos e atitudes de compaixão. A vida nesse sentido parece destituída de qualquer valor. A visível falta de ação diante de um acontecimento como esse, em que uma vida era tirada, é revelador de uma perda da capacidade de se indignar, de lançar “outro” olhar sobre as circunstâncias da vida.
Provavelmente essa inércia, ou falta de “ação para o bem” encontre espaço tanto na arrogância das “elites” como na ignorância das “ralés”. É sintomático que algo assim não suscite formas de participação e compreensão daquilo que “subjaz” ao fato. É igualmente sintomático que tenha gerado falas ocas, sem pensamento, porque impregnadas de clichês, frases-feitas, e carregadas de preconceitos, como por exemplo, “deixa morrer que é vagabundo”, ou outras com semelhante teor, sobretudo quando a violência é praticada pelos pobres. Por Antonio Iraildo Alves de Brito (aluno).

Créditos da foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK5x9F2a_tQV3N75vl2d3KgfLBo94-oIN_fR2I1ol1g7h2EHJRxitkGQYrY8MByIugWdrTFf8dHEoUTWv9ih6Awa2BNVnV2ckTro2hjJWxtpNszTdDArMTVrijA1X60xsLmzKNoyjLFKQ/s400/banal.jpg

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