quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Comentários à Música “Queremos Saber”, interpretada por Cássia Eller




A música de Cássia Eller traz questionamentos que, podemos dizer, são os da ética em relação à bioética. Sutilmente, transparece na música a questão da justiça. 

A música começa se perguntando o que vão fazer com as novas invenções. Parece uma questão simples, mas é provocante. Os desenvolvimentos da biotecnologia, os avanços na pesquisa atômica, o desenvolvimento da nanotecnologia, o que se fará com eles? Em quê exatamente tais desenvolvimentos ajudarão o homem a se emancipar? É interessante o uso dessa palavra. De que modo esses avanços nos farão mais autônomos, mais livres? Ou, ao contrário, não nos tornariam mais dependentes, mais alienados? Não sou pessimista em relação ao avanço técnico, mas constato muitas vezes que o nosso progresso científico poderia aliviar, ou mitigar tantos problemas sociais e, no entanto, isso não acontece. 

A música segue, então, se perguntando se as novas invenções serão democratizadas. O pobre no sertão terá, por acaso acesso a elas, como os citadinos das grandes megalópoles? Essa oposição pobre versus rico, que já parece saturada em muitas perspectivas, que é fruto de uma análise histórica marxista, que para muitos está superada com a crise econômica, não parece ser tão ingênua. Ainda guarda sua verdade: há poucos com muito e muitos com pouquíssimo. Quem, enfim, terá acesso aos resultados do ‘progresso’? 

Cássia Eller ainda canta: “Queremos viver, confiantes no futuro...”. E completa: “por isso é necessário saber o itinerário da ilusão”. E é verdade. O poder que o avanço técnico-científico não nos ajudou apenas. Nós também fomos esmagados pela ilusão do poder. Não sabemos ainda se o homem tem condições de lidar com o poder, de suportá-lo, ao passo que o poder é uma de suas maiores ambições. Isso faz lembrar o que dizia Nietzsche: “onde encontrei o vivente, aí encontrei vontade de poder”[1]

Não se trata, agora, de desenvolver uma tecnofobia: um medo exacerbado da técnica, mas é preciso ter lucidez. A lucidez necessária para que as técnicas desenvolvidas estejam orientadas para um bem sempre mais abrangente (ethos). E por ser abrangente, que leve em consideração a questão da justiça, da democratização do conhecimento e dos avanços. 

Nós lidamos com a técnica, dependemos em muito das tecnologias, mas queremos viver ainda... E não apenas viver (pois há muitas formas de viver), mas também ter confiança de que os avanços podem fazer-nos avançar em relação à nossa própria emancipação. Por Eduardo Rodrigues (aluno).


[1] NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral: Uma Polêmica. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.


Créditos pela figura: http://artistasdeitarare.zip.net/images/antimateria.jpg

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