quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A Discussão sobre o Aborto, a partir de Roque Junges - Parte II



Diálogo e Crítica


Se a ética pode ser entendida como o direcionamento da ação para o bem, isso exige a superação do mal. O que está em jogo na questão do aborto é em muitos casos a dignidade da mulher e o respeito absoluto ao embrião como parte indispensável ao processo vital, sem o qual não haveria homem. Mas se a orientação da ética é o sumo bem (em termos tomasianos), é correto pôr em conflito esses dois bens?[1]  Está aí um bom argumento para justificar um diálogo.
Sobre essa questão, Junges faz uma abordagem interessante, criticamente, mostrando que o grupo antiabortista é, em sua maioria, de classes abastadas; preocupa-se com o feto e defende o direito de nascimento, mas não se preocupa com as estruturas em que o bebê vai nascer, de modo que o feto não é abortado, mas o meio social o aborta por falta de condições a uma vida digna. Diz ainda que o grupo antiabortista não leva em conta a situação dolorosa da mulher, tendo de arcar sozinha com uma gravidez indesejada. Admiro o esforço de Junges por colocar a questão numa perspectiva mais ampla e concordo que a discussão é muitas vezes hipócrita. Mas, também vejo a possibilidade de usar esse argumento, como justificativa sofisticada para uma espécie de “eugenia social”, o que não acho que é a intenção do autor.
Mas Junges não para por aí. O grupo que é pró-aborto na discussão não se preocupa, por sua vez, com os problemas causadores do aborto. “Em vez de implantar uma política de prevenção das causas, a lei que favorece o aborto lava as mãos diante do problema”[2]. E parece ser assim mesmo: a questão é tratada superficialmente, escolhe-se o mais fácil, o menos dispendioso... A preocupação central não deveria ser quem tem mais direitos (o feto ou a mãe), e sim a relação que se estabelece entre eles (tanto fisicamente), quanto a relação que pode se estabelecer (psicologicamente/afetivamente). Agora, é de se questionar em quê, exatamente, a possibilidade de abortar tem a ver com a liberdade feminina? (como defendia a Record, por exemplo).
Uma coisa parece ser verdade: o aborto elimina a possibilidade de uma pessoa humana vir à tona e se humanizar na vida. É por isso que o Magistério da Igreja Católica defende que o embrião, por exemplo, deve ser tratado como pessoa humana. E se o aborto, nesse sentido é um mal, “não pode ser exigido como um direito, pois o mal não é objeto de direito, nem um outro ser humano, mesmo potencial, pode ser um meio para a realização de um direito. Em situações-limite, o aborto poderia ser objeto da tolerância do legislador”[3]. Assim, sendo, ter uma lei favorável ou não em relação ao aborto não resolve nada, pois a questão não é jurídica; é antes, ética. [continua...]. Por Eduardo Rodrigues (aluno).


[1] É o que pergunta Junges. Cf. Ibid., p. 152.
[2] Ibid., p.153
[3] Ibid., p.154

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