Parte I
Este artigo segue
a reflexão feita por J. Moltmann no último capítulo de O Deus Crucificado, o qual apresenta os “caminhos para a libertação
política da humanidade”[1]. Tentaremos apresentar aqui de forma
breve os círculos viciosos da morte, bem como, salientar os caminhos da
libertação que chamaremos de círculos virtuosos da vida e da humanização.
A sociedade
contemporânea, mesmo com todos os avanços científico-tecnológicos, ainda
enfrenta graves problemas em relação à vida do ser humano. Há certos padrões
econômicos, sociais e políticos que levam da vida à morte. E como o bioética
que ser uma ética da vida, ela não
pode se eximir dessa problemática.
Na dimensão econômica da vida:
há o círculo vicioso da pobreza. A fome, a falta de moradia, o descaso com a
saúde pública, a falta de investimento na educação formam um verdadeiro círculo
vicioso que conduz à morte física (pessoas que morrem nas filas dos hospitais à
espera de atendimento médico, crianças que morrem por desnutrição...); morte
mental (jovens que se sentem inferiores por não poderem manter o padrão de
consumo da alta sociedade, outros que acabam entrando para o mundo da
criminalidade, da drogas...) e a morte espiritual (jovens que já não sonham
mais, pais e mães de família que não têm mais força de lutar, cidadãos que deixaram
de acreditar na política como lugar da defesa do direito e da justiça...).
Na dimensão política:
a corrupção, o uso da máquina pública para interesses particulares, o
economicismo na política, etc. geram o círculo vicioso que também leva à morte.
Muitos cidadãos de bem já não acreditam mais na política, nem tampouco na ética
e nos ideais democráticos. Mas o afastamento das pessoas de bem do “espaço
público, da cidade” faz com que o bem público seja entregue nas mãos de pessoas
corruptas, aproveitadores que buscam na política uma oportunidade de lucro e
exploração.
Na dimensão social:
temos o círculo vicioso da alienação racial e cultural, além do preconceito
que, mesmo sendo de forma camuflada, ainda existe em nossa sociedade. Mesmo com
os avanços econômicos e uma melhor distribuição de renda que se fez nos últimos
anos, a sociedade brasileira ainda sofre com o grave problema da desigualdade
social e econômica. Somos manipulados por um sistema capitalista injusto e desumano
que explora e inviabiliza qualquer reação contrária ao seu projeto opressor.
Na questão ambiental,
cresce o círculo vicioso da poluição industrial, o lixo, o desmatamento, os
agrotóxicos que contribuem para a destruição do meio ambiente. Em nome do
progresso e do crescimento econômico vivemos uma verdadeira “guerra” contra a
preservação ambiental. Sabemos que é possível e viável manter o equilíbrio
entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental. Mas, para isso, é
preciso ter vontade política porque, apesar de todos estarmos cientes de que a
destruição do ambiente traz conseqüências graves para a vida humana e coloca em
risco o Planeta, falta iniciativa política corajosa. Isso porque a destruição
ambiental dá lucros para uma minoria.
Enfim, o círculo
vicioso da insensibilidade e da apatia:
diante de tanta violência, corrupção e falta de engajamentos éticos
responsáveis, corre-se o risco de ficar insensível diante da dor e da morte do
outro. Os jovens já não têm utopias, as crianças não sonham mais. A morte não
gera indignação. A paz se perdeu no horizonte. O individualismo tornou-se a bandeira
até mesmo das religiões. A nossa humanidade está se desumanizando. Por Rodrigo Ferreira da Costa (aluno).
Continua...
[1]Cf. MOLTMANN J. Caminhos
para a libertação política da humanidade. In:___________. O Deus Crucificado: a cruz de Cristo como base e crítica da
teologia cristã[1]. Santo André: Academia Cristã, 2011. p.
389-418.
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