Depois do
terremoto no Haiti no 2010, a empresa Monsanto anunciou que ia fazer uma doação de uma grande quantidade de sementes de milho, feijão e
outros produtos para os agricultores haitianos.
Muitos camponeses haitianos, principalmente do movimento social chamado
Mouvman Peyizan Papay, responderam a esse « gesto solidário » com manifestações onde queimaram as sementes da Monsanto. Será que os haitianos estavam sendo
mal-agradecidos, ou então manipulados por intelectuais da
esquerda, como muitos jornalistas sugeriram? Ou será que
eles sabiam muito bem o que faziam, e souberam interpretar os interesse
escusos por trás do gesto da Monsanto que os colocariam em risco grave?
Para fazer uma
« hermenêutica » adequada desses acontecimentos, precisamos levar
em conta o fato que estava no centro dos conflitos: a dupla modificação biogenética das sementes do Monsanto.
Por um lado, as sementes estão desenhadas para produzir maiores
colheitas que as sementes « naturais » – de aí a
vantagem que representam. Mas ao mesmo
tempo, os grãos produzidos não germinam, se usados como sementes. Assim, os agricultores tem
que comprar novas sementes cada ano.
Isso quer dizer que na medida que as sementes Monsanto substituem as
sementes naturais, por causa da sua maior produção, a
empresa multibilionária consegue um monopôlio sobre o abastecimento de
alimentação de países inteiros. Também limita a biodiversidade, porque as muitas variedades locais dos
produtos são eliminadas com o tempo.
A Monsanto
justifica a política de criar sementes que não se
reproduzem com o argumento de que o lucro é o
motor da inovação. Precisam garantir a
propriedade intelectual particular para fazer lucro, e na medida que eles se
fazem ricos com seu produto, vão querer continuar se fazendo ainda
mais ricos, e com essa motivação vão
investir uma parte dos lucros para continuar desenvolvendo novos produtos. Se eles fizeram sementes melhores sem
garantir o seu lucro (e desse jeito, à principio), só para ajudar mesmo, não teriam motivação (nem capital, à principio) suficiente para
investir em novas invenções.
Desde a
perspectiva do Mouvman Peyizan Papay, a reação não teve nada a ver com tecnofobia.
Teve a ver com a realidade de que a falsa solidariedade é uma ameaça à vida. Por Emilio (aluno).
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