terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A indústria da biogenética


Depois do terremoto no Haiti no 2010, a empresa Monsanto anunciou que ia fazer uma doação de uma grande quantidade de sementes de milho, feijão e outros produtos para os agricultores haitianos.  Muitos camponeses haitianos, principalmente do movimento social chamado Mouvman Peyizan Papay, responderam a esse « gesto solidário » com manifestações onde queimaram as sementes da Monsanto.  Será que os haitianos estavam sendo mal-agradecidos, ou então manipulados por intelectuais da esquerda, como muitos jornalistas sugeriram?  Ou será que eles sabiam muito bem o que faziam, e souberam interpretar os interesse escusos por trás do gesto da Monsanto que os colocariam em risco grave

Para fazer uma « hermenêutica » adequada desses acontecimentos, precisamos levar em conta o fato que estava no centro dos conflitos: a dupla modificação biogenética das sementes do Monsanto.  Por um lado, as sementes estão desenhadas para produzir maiores colheitas que as sementes « naturais » – de aí a vantagem que representam.  Mas ao mesmo tempo, os grãos produzidos não germinam, se usados como sementes. Assim, os agricultores tem que comprar novas sementes cada ano.  Isso quer dizer que na medida que as sementes Monsanto substituem as sementes naturais, por causa da sua maior produção, a empresa multibilionária consegue um monopôlio sobre o abastecimento de alimentação de países inteiros.  Também limita a biodiversidade, porque as muitas variedades locais dos produtos são eliminadas com o tempo.

A Monsanto justifica a política de criar sementes que não se reproduzem com o argumento de que o lucro é o motor da inovação.  Precisam garantir a propriedade intelectual particular para fazer lucro, e na medida que eles se fazem ricos com seu produto, vão querer continuar se fazendo ainda mais ricos, e com essa motivação vão investir uma parte dos lucros para continuar desenvolvendo novos produtos.  Se eles fizeram sementes melhores sem garantir o seu lucro (e desse jeito, à principio), só para ajudar mesmo, não teriam motivação (nem capital, à principio) suficiente para investir em novas invenções.

Desde a perspectiva do Mouvman Peyizan Papay, a reação não teve nada a ver com tecnofobia.  Teve a ver com a realidade de que a falsa solidariedade é uma ameaça à vida.  Por Emilio (aluno).

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