quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O jogo de interesse nas ciências e tecnologias





            A ciência sempre trabalhou com o ideal de objetividade e neutralidade. Mas será que isso é possível? Será que o poder político e econômico não possuem uma força sobrenatural capaz de ditar os rumos das pesquisas científicas e das inovações e invenções tecnológicas? Em nome da ideologia do progresso e do crescimento econômico se justifica quase tudo, até mesmo a morte e o desrespeito de culturas milenares, vidas humanas são ceifadas, sem falar da destruição ambiental sem nenhum critério. Na mentalidade do lucro tudo é dinheiro: natureza, cultura, lazer, corpo, religião, enfim, o ser humano é visto como consumidor ou produtor, caso contrário, é descartado.
 Para o “senso comum”, o cientista tem a “verdade” e sua pesquisa é totalmente neutra de interesses políticos e econômicos. Na prática, porém, sabemos que isso é “impossível”, pois “toda interpretação é produto de interações, descobertas e reflexão de pessoas situadas historicamente.” [1] Basta recordarmos que o racismo serviu de causão para a política de expansão e colonização do imperialismo e para os próprios conflitos internos da Europa que seriam levados às últimas consequências com os governos totalitários. Não que a ciência seja a criadora de idéias racistas, “a culpa não é da ciência em si, mas de certos cientistas não menos hipnotizados pelas ideologias que os seus concidadãos menos cultos”[2].  
Observa-se, em nossa sociedade, a inversão dos valores que dá à economia a prioridade sobre a política e a ética. Desta forma, a política, que na democracia ateniense, ocupava o espaço público, é expulsa cada vez mais deste em função do crescimento do mercado e do interesse das pessoas em cuidar da vida privada. O espaço público é, portanto, invadido pela produção e pelo consumo, e o trabalho como fonte produtora de riquezas passa a ser visto como a própria essência do homem.
A sociedade moderna é movida pelos ideais de uma razão que se preocupa tão somente com a necessidade de ligar meios a fins, ou seja, a racionalidade instrumental, utilitarista. E as conseqüências deste tipo de racionalidade são visíveis. Pois no momento em que o homem moderno, com extraordinário poder da ciência e da técnica, pode decidir sobre a existência ou não do futuro, este deixou de representar uma mensagem de esperança e tornou-se uma ameaça de destruição.
Daí a importância da bioética. Pois o mundo da tecnociência está aí. Não é possível devolvê-lo aos deuses. Então o que nos resta é buscar interagir, dialogar e propor novas alternativas que sejam capazes de trazer para o campo da ciência e da tecnologia o compromisso ético com o ser humano e o amor ao mundo. Por Rodrigo Ferreira da Costa (aluno)

Créditos da foto: http://3.bp.blogspot.com/-neFDlS9l7OQ/TvsSixLVq8I/AAAAAAAAI_Q/xx1KNt8jSOE/s1600/hk_20080207_chessboard.jpg


[1] Germano Cord Neto, Perspectiva Teológica, v. 42, n. 118, p. 383, set./dez. 2010.
[2]ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.190

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