A
ciência sempre trabalhou com o ideal de objetividade e neutralidade. Mas será
que isso é possível? Será que o poder político e econômico não possuem uma força sobrenatural capaz de ditar os
rumos das pesquisas científicas e das inovações e invenções tecnológicas? Em
nome da ideologia do progresso e do crescimento econômico se justifica quase
tudo, até mesmo a morte e o desrespeito de culturas milenares, vidas humanas
são ceifadas, sem falar da destruição ambiental sem nenhum critério. Na
mentalidade do lucro tudo é dinheiro: natureza, cultura, lazer, corpo,
religião, enfim, o ser humano é visto como consumidor ou produtor, caso
contrário, é descartado.
Para o “senso comum”, o cientista tem a “verdade”
e sua pesquisa é totalmente neutra de interesses políticos e econômicos. Na
prática, porém, sabemos que isso é “impossível”, pois “toda interpretação é
produto de interações, descobertas e reflexão de pessoas situadas historicamente.”
[1] Basta
recordarmos que o
racismo serviu de causão para a política de expansão e colonização do
imperialismo e para os próprios
conflitos internos da Europa que seriam levados às
últimas consequências
com os governos totalitários. Não que a ciência seja a criadora de idéias racistas, “a culpa não é
da ciência em si, mas de certos cientistas não menos hipnotizados pelas
ideologias que os seus concidadãos menos cultos”[2].
Observa-se, em nossa
sociedade, a inversão dos valores que dá à economia a prioridade sobre a
política e a ética. Desta forma, a política, que na democracia ateniense,
ocupava o espaço público, é expulsa cada vez mais deste em função do
crescimento do mercado e do interesse das pessoas em cuidar da vida privada. O
espaço público é, portanto, invadido pela produção e pelo consumo, e o trabalho
como fonte produtora de riquezas passa a ser visto como a própria essência do
homem.
A sociedade moderna é movida
pelos ideais de uma razão que se preocupa tão somente com a necessidade de
ligar meios a fins, ou seja, a racionalidade instrumental, utilitarista. E as
conseqüências deste tipo de racionalidade são visíveis. Pois no momento em que
o homem moderno, com extraordinário poder da ciência e da técnica, pode decidir
sobre a existência ou não do futuro, este deixou de representar uma mensagem de
esperança e tornou-se uma ameaça de destruição.
Daí a importância da bioética. Pois o mundo da tecnociência
está aí. Não é possível devolvê-lo aos
deuses. Então o que nos resta é buscar interagir, dialogar e propor novas
alternativas que sejam capazes de trazer para o campo da ciência e da
tecnologia o compromisso ético com o ser humano e o amor ao mundo. Por Rodrigo Ferreira da Costa (aluno)
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