Em sua obra “O
macaco nu”, Desmond Morris se pergunta sobre o porquê de entre cento e noventa
e três espécies de macacos e símios existentes, a única que se diferencia
consideravelmente é a do símio pelado que se cognominou homo sapiens?
O
autor, como zoólogo, propõe-se a estudar o homem, o macaco pelado, um animal. A
tese central é a de que embora tenha se tornado tão distinto das demais
espécies, o homo sapiens continua
sendo um macaco, e que embora evidencie o poderio de sua razão, no fundo
subsistem todas as suas motivações primitivas. Ao longo do livro, tece-se uma
teoria sobre a origem da espécie humana e seu constante desenvolvimento:
locomoção, sexualidade, alimentação etc.. No final das contas, ao que me
pareceu, Morris tentando apresentar o ser humano como um animal (sem mais),
acabou [talvez inconscientemente] apresentando um novo animal, o macaco nu
protestante, pois a raiz religiosa do autor é perceptível em grande parte da
obra. Pretendendo ser imparcial na análise científica do homem, a herança
religiosa do zoólogo veio à tona.
Igualmente,
tanto os peritos religiosos em assuntos concernentes à bioética quanto os
peritos científicos ao analisar as questões que lhes cabem não estariam nada
mais nada menos que defendendo as suas motivações morais mais primitivas,
religiosas ou não?
Por
exemplo: o perito da área de medicina, francês, filho de pais ateus, não
partiria sempre do ponto-de-vista do homem como um ente jogado na existência?
Se sim, isto o levaria a, apresentando seu parecer sobre dado assunto, estar
defendendo sua crença primeira, que é mais de seus pais que dele mesmo. Sendo
avesso a qualquer dado religioso, conforme aprendera de seus pais.
Da
mesma forma: o perito religioso da área médica, italiano, filho de pais católicos,
padre, não partiria sempre do ponto-de-vista do homem como ser criado por Deus?
Ainda que aberto ao diálogo seja, no fundo não prevalecerá a herança religiosa
que herdou de seus pais?
A
pergunta comum de fundo destes dois exemplos é: a mesma relevância que a
infância tem na vida da pessoa por toda a vida, não influenciaria
consideravelmente as conclusões relativas às questões de bioética?
Como
Desmond Morris, temos analisado o macaco nu religioso vivendo num mundo criado,
ou o macaco nu ateu vivendo num mundo surgido, enfim, fazendo da bioética um
instrumento para confirmar nossas crenças primeiras que, no fundo, não são
nossas. Por Alfredo Viana Avelar (aluno)
Crédito da figura: http://images.quebarato.com.br/T440x/livro+o+macaco+nu+desmond+morris+sao+paulo+sp+brasil__5C007_1.jpg
Alfredo, tens facilidade de desengavetar questões pertinentes. Não tenho dúvidas, o homem ver os fatos a partir de sua janela, e analisa-os de acordo com o grau de seu óculos. Isso para dizer que, os indivíduos de acordo com sua a cultura, formação, profissão de fé, cada um a seu modo, constroem e padronizam o seu ethos. E compreenderem-se a partir daí. Com isso, nascem as ideologias, e claro, passam a defendê-las. No caso da sua pergunta de fundo, considero que em parte somos influenciados, sim. Somos influenciados justamente porque somos seres relacionais, nos encontramos dentro uma sociedade, de uma cultura, que é antes de nós. Entramos nela já em curso, e dela abstraimos alguns valores, acrescentando em nós mesmos outros novos(próprios). Há também outros valores que comungamos com os demais, por serem comum a todos. A bioética é um desses valores que diz respeito a todos. É o caso, por exemplo, de pátria, terra, solo, chão que pisamos que não é meu, nem teu. É de todos. E assegurar seu bem estar, o bem estar do planeta é zelar daquilo que não é meu, não é teu, mas de todos. E a pátria, na versão indígena, "terra sem males", é a pátria que buscamos. Mesmo não sendo os idealizadores da bioética, ela é questão nossa, enquanto nos sentimos responsáveis pelos rumos de toda vida, inclusive a vida humana.
ResponderExcluirÉ um grande problema, realmente, poder desvencilhar-se das amarras do contexto no qual as "motivações morais mais primitivas, religiosas" de quem pesquisa a bioética,determina para onde vai suas conclusões e pesquisas. Para que apenas a questão do "bem" tenha seu realce superior, o "macaco" devia ser, de fato, despido, não só aquele objeto de estudo, mas quem o estuda. Outrossim, é possível apenas uma maior "neutralidade" se ao invés do homem-pesquisando-homem, um outro ser pudesse fazer o papel de pesquisador. Talvez apenas uma extra-terrestre poderia ser imparcial suficiente para tomar conclusões mais convicentes para toda a humanidade, sem distinção de "motivações" interiores, sejam elas quais forem.
ResponderExcluirCaso um ET ainda não seja capaz de contrbuir com sua visão sobre a humanidade, contudo, apenas uma realidade na qual o "macaco despido" seja possível existir, talvez tenha sucesso.
Vamos ver se o ALF (tanto ALFredo e o ALF do seriado de televisão) sejam capazes disso.
boa leitura do "Macaco nu".
Hugo Galvão