terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

SOBRE COMUNICAÇÃO E INTERAÇÕES CULTURAIS



Ao ver o início do filme Os Deuses Devem Estar Loucos (The Gods Must Be Crazy), no qual se narra a vida simples e “feliz” de uma tribo africana (Kalaari) e seu contato com a frenética “civilização” ocidental, recordei dos muitos discursos apocalípticos (Eco, 2004) que preconizaram o fim das culturas tradicionais com o processo de globalização, considerando, sobretudo, as influências dos meios de comunicação massivos. Alguns integrados também entraram neste jogo, porém como pretensos “salvadores da pátria”, num estado de vigilância extrema a fim de evitar a ocorrência dos danos anunciados. No entanto, em vez de sumiço, as culturas tendem a mesclarem-se, interagirem-se.
As influências da globalização disseminada pelos meios de comunicação, para muitos teóricos, seriam justamente as causadoras da derrocada geral das culturas tradicionais. Isso é dito como se os pertencentes a essa cultura fossem consumidores totalmente passivos ante as mensagens recebidas dos meios hegemônicos de comunicação. Ocorre que os “mundos marginais” não somente recebem, mas interpretam as mensagens transmitidas pelos meios de comunicação, contradizendo a tão arraigada ideia da onipotência midiática.
Há nos estudos de comunicação uma teoria chamada folkcomunicação (Fundada pelo pernambucano Luiz Beltrão, em 1967) que lida com os temas relacionados ao folclore, bem como com as expressões artísticas e resistência cultural das classes subalternas ou dos grupos marginalizados. E mais que isso investiga a integração ou o intercâmbio entre essas manifestações e os meios de comunicação. Tal campo de pesquisa pode ir ao encontro da bioética como suporte interdisciplinar, justamente por conferir espaço de expressão às minorias marginalizadas pela hegemonia comunicacional.
Num país como o nosso, em que, não obstante os avanços econômicos e sociais nos últimos anos, os meios de comunicação ainda estão controlados por meia dúzia de famílias, urge que proliferem estudos que busquem entender os processos de intercâmbios e sobrevivência das culturas marginalizadas, conferindo-lhes o direito à voz. Abaixo os discursos tecnofóbicos e as visões românticas da miséria. Por Antonio Iraildo Alves de Brito (aluno).

Créditos da foto: http://www.mnh.si.edu/exhibits/natures_best_2008/gallery/JulianAsher_IndigenousCulturesHH_lg.jpg

ECO, U. 2004. Apocalípticos e integrados. São Paulo, Perspectiva, p. 325.
DE MELLO, José Marques. Mídia e Cultura Popular. História, taxionomia e metodologia da folkcomunicação. São Paulo: Paulus, 2008.

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