Ao ver o início do filme Os
Deuses Devem Estar Loucos (The Gods Must Be Crazy), no qual
se narra a vida simples e “feliz” de uma tribo africana (Kalaari) e seu
contato com a frenética “civilização” ocidental, recordei dos muitos discursos apocalípticos (Eco, 2004) que preconizaram
o fim das culturas tradicionais com o processo de globalização, considerando,
sobretudo, as influências dos meios de comunicação massivos. Alguns integrados
também entraram neste jogo, porém como pretensos “salvadores da pátria”, num
estado de vigilância extrema a fim de evitar a ocorrência dos danos anunciados.
No entanto, em vez de sumiço, as culturas tendem a mesclarem-se, interagirem-se.
As influências da globalização
disseminada pelos meios de comunicação, para muitos teóricos, seriam justamente
as causadoras da derrocada geral das culturas tradicionais. Isso é dito como se
os pertencentes a essa cultura fossem consumidores totalmente passivos ante as
mensagens recebidas dos meios hegemônicos de comunicação. Ocorre que os “mundos
marginais” não somente recebem, mas interpretam as mensagens transmitidas pelos
meios de comunicação, contradizendo a tão arraigada ideia da onipotência
midiática.
Há nos estudos de comunicação
uma teoria chamada folkcomunicação (Fundada
pelo pernambucano Luiz Beltrão, em 1967) que lida com os temas relacionados ao
folclore, bem como com as expressões artísticas e resistência cultural das
classes subalternas ou dos grupos marginalizados. E mais que isso investiga a
integração ou o intercâmbio entre essas manifestações e os meios de
comunicação. Tal campo de pesquisa pode ir ao encontro da bioética como suporte
interdisciplinar, justamente por conferir espaço de expressão às minorias
marginalizadas pela hegemonia comunicacional.
Num país como o nosso, em que,
não obstante os avanços econômicos e sociais nos últimos anos, os meios de
comunicação ainda estão controlados por meia dúzia de famílias, urge que
proliferem estudos que busquem entender os processos de intercâmbios e
sobrevivência das culturas marginalizadas, conferindo-lhes o direito à voz. Abaixo
os discursos tecnofóbicos e as visões românticas da miséria. Por Antonio Iraildo Alves de Brito (aluno).
ECO, U. 2004. Apocalípticos e integrados. São Paulo, Perspectiva, p. 325.
DE MELLO, José Marques. Mídia e Cultura Popular. História, taxionomia e metodologia da folkcomunicação. São Paulo: Paulus, 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário