quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Nossos hábitos de consumo



Nos dois artigos anteriores (aqui e aqui) falei sobre a necessidade de vigiar e orientar o trabalho científico e tecnológico. Dali, passei a afirmar a importância da bioética e dos organismos que tem nessa função. Agora quero apontar uma nova dimensão desse complexo mundo do desenvolvimento da ciência e da tecnologia: a nós mesmos. Nossos hábitos de consumo têm muito a ver com o percurso seguido pela pesquisa científica e tecnológica. Embora, tenha que reconhecer que “nossos” é amplo demais, pois os maiores consumidores vivem na Europa e no Norte América (Canadá e Estados Unidos), como também são parte os grupos de mais poder de compra nos outros países do mundo.

Pensei na nossa responsabilidade depois de ler um recente artigo de González Faus[1]. Numa parte ele diz que as palavras de Jesus “deixam em evidencia que o sistema de gestão de nossa casa comum merece ser subvertido de acima abaixo.”[2] É uma conclusão que ele tira depois de citar as revolucionárias palavras de Jesus em Mt 6,25ss: “...não vivais preocupados com o que comer e beber, quanto à vossa vida; nem o que vestir, quanto ao vosso corpo.... Olhar os pássaros do céu: não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros. No entanto, o vosso Pai celeste os alimenta...”. Alias, assinala que essas frases estão entre outras duas que completam seu sentido. Aquelas que dizem que não se pode servir incondicionalmente a dois senhores, e, portanto, “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). E as outras que afirmam “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.”(Mt 6, 33).

Essas palavras nos lembram do longe que estamos dos ensinamentos de Jesus. Nós vivemos não só ocupados pelas questões materiais necessárias para viver, algo que não questiona Jesus, mas angustiados por produzir e consumir muito além das necessidades humanas básicas. Por isso, Gonzales Faus lembra-nos que a terra é capaz de produzir comida para 12 milhões de pessoas, hoje somos sete milhões e, no entanto, muitos passam e morrem de fome; algo que desde Gandhi tem uma explicação, “a terra pode satisfazer as necessidades do homem, mas nunca poderá satisfazer todos seus caprichos” e esta lógica se verifica nas toneladas de alimentos que se destroem ano com ano em nome do mercado.

A pesar de serem muitos os cristãos, para os ricos, a classe media e os pobres é difícil acreditar nas palavras de Jesus. São revolucionárias demais para o mundo e para nossa própria vida. O trem de consumo em que viajamos vai muito rápido como para mudar o rumo, muitos querem subir e se manter, embora no longo prazo seja fatídico para todos. Embora, o fato de todos quererem, não tira a maior responsabilidade daqueles que tem mais poder para cambiar o rumo: as nações ricas e aqueles que têm em suas mãos grandes capitais.

Para uma mudança significativa na ciência e na tecnologia é também necessária uma mudança nos nossos hábitos de consumo. Especialmente daqueles que mais consomem. Alegremente é uma consciência que cresce cada vez mais, embora não ao ritmo nem com a efetividade desejada. É necessário aprender a viver com mais confiança em Deus Pai, i. é, com mais confiança no ser humano. Mas não na capacidade individual, senão confiar na fonte de sentido que constitui a apertura ao outro, o diálogo, o deixar-se afetar pelo rosto de outrem que está no mundo. Assim será possível a virada que no propõe Gonzalez Faus desde as palavras de Jesus. Por Mario E. Cornejo Mena (aluno).


Créditos da figura: http://cdn.omtimes.com/wp-content/uploads/2012/02/man-in-the-mirror_OM-Times.jpg

[1] González Faus, José I. El naufragio de la Izquierda. Em: Cuadernos CJ, Barcelona: Cristianisme i Justícia, nº 177, diciembre, 2011.
[2] Ibid., p. 9.

Nenhum comentário:

Postar um comentário